terça-feira, 2 de novembro de 2010

Amores finados

Não esperem ouvir-me fazer apologia do desapego. Eu amo tudo o que se pode tocar como uma beata ama a Deus. Amemos todos como quisermos.

Não esperem de mim que eu não sinta ciúmes ou medo. Eu os sinto e os declaro, sem nenhuma vergonha. Meu corpo é de carne, um dia se acabará.

Assim eu digo: jamais amei João como amei Pedro, nem Pedro como amei Carlos, nem Carlos como amei Roberto. Meu amor não flui. Ele nasce e morre, nunca é amor reencarnado. Sempre é novo. Como o novo sol de um novo dia.

Um amor finito é o que tenho. Qualquer outro amor ainda que seja maior, não é o meu. Meu amor é de carne e tem apego. É enterrado em cerimônia ou cremado quando morre.

E se, por um mero acaso, meu amor renascer, será sem nenhuma poesia: como renasce um corpo morto no estômago de uma formiga.

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