domingo, 28 de fevereiro de 2010

o inanimado

Dono do tempo eterno,
o inanimado zomba de nós
Um espirro seu é nosso inferno.

Um tremor é sua febre,
Um trovão é sua voz.

Deus fez o homem a sua imagem,
e esqueceu-se dele depois.
Mas o inanimado, que nada sabe,
Contém e domina os dois.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Ausência

Eu quero a companhia dos mendigos
Vento frio e goteira das marquises
Eu quero a solidão nas ruas sujas
Mas nenhuma das palavras que me dizes

Eu quero andar sozinho pela noite
Sorver de um trago só toda a cachaça
Outro açoite que não seja de tua boca
Que seduz, engana e acha graça.

Eu quero inundação e quero incêndio
Qualquer flagelo que distraia a tua ausência.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

É assim

Termina quando começa quando termina quando começa.
Encontro é despedida, destino é ponto de partida.
Os fins são os próprios meios, os meios justificam os fins.
Escorre todo e está todo cheio, o amor que tenho é assim.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Às cegas

Saudades de ser conduzida,
por teu corpo
ritmo resoluto e suave.
Baile.

Carência de ser toda lida,
por teus olhos
e ler-te com a ponta dos dedos.
Braile.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Dois tempos

A primavera coloriu de vermelho
As flores do meu vestido
A brisa espalhou perfume
E soprou música nos meus ouvidos

Ele, porém, se esquece de tirar a minha roupa
E não sabe nada da primavera
O abstrato é o que lhe dá sentido:
Paixões, poder, idéias.

Um passarinho fez ninho
Nas mechas dos meus cabelos
Enquanto ele inventava teorias
E desenhava modelos.

As pétalas são levadas pelo vento
Pássaros planam sobre nossas cabeças
E vivemos o tempo depois do tempo.

O mesmo tempo que renova os sonhos dele.
O mesmo tempo que enruga minha pele.