quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Aznavour e a malcriação

Mamãe esqueceu o Aznavour na última visita. O CD ficou misturado aos outros e na caixa errada.

Achá-lo foi como rever um amor perdido na estante da sala. Meus amores moram todos lá mesmo, na minha trilha sonora particular.

Aznavour à noite, Aznavour no carro. Me senti num filme no Eixão-Champs-Elysées. “Tous les visages de l’amour” e a manhã começou com glamour.

Inspirou uma malcriação que eu vinha maquinando. Deixar um trabalho e a impossível convivência com Monsieur Beaglê. A música tem poder!

Estou feliz! Quero aprender francês, cantar e ir a Paris...

Ouça e enterre uma carniça sem descer do salto: "Tous les visages de l'amour"

domingo, 21 de setembro de 2008

A festa da primavera

Era uma vez um Menino-Vento, que morava com sua mãe. Na frente da casa deles havia um belo Jardim, e mais adiante uma floresta. O Jardim era todo separado em cores. No canteiro das margaridas amarelas, voavam borboletas amarelas sob raios amarelos de sol. No canteiro das rosas vermelhas só as borboletas vermelhas podiam pousar. Cada cor da primavera tinha seu próprio lugar.

O Menino-Vento, inquieto, ia e vinha balançando as folhas de todo o Jardim. Até que fez amizade com Romeu-Borboleta-Azul. Como todo bom vento, soprou Romeu até Julieta-Amarela-Borboleta. E o que não podia deixar de ser, aconteceu: apaixonaram-se Julieta e Romeu. E entraram os três na Floresta, de onde se esqueceram de sair. Até que anoiteceu!

A estas alturas o Jardim já estava em polvorosa. Borboletas amarelas e azuis atrás dos dois jovens perdidos. Procuraram muito, muito. Até que os encontraram. Então, voltaram todos para casa. E a primavera seguinte foi assim: borboletas e flores de todas as cores, juntas e espalhadas por todo jardim. Todos acharam graça do Menino-Vento, que soprou água do lago e uma fala que Julieta-Borboleta esqueceu.

Menino-Vento-do-Dente-Mole agora dorme. E eu penso que vou ter cadeira cativa na vida dele, primaveras e primaveras adentro, e sorrio.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Aceitação

Deixe que a borboleta saia só de seu casulo
Não interfira, nem se iluda das cores que ela terá.

Quebre o seu casulo e espalhe as suas cores
Isso é tudo que lhe cabe.

Não se ama com o coração alheio
Meu doce, meu velho.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Prerrogativas da idade

Ficar mais velha definitivamente tem suas vantagens. Beijos e abraços, presentinhos e carinhos. Telefonema anual do amigo distante. Ser descoberta no trabalho apesar do meu silêncio. Fazer festa com amigos dos amigos. Mas, dessa vez, não foi só isso!

Vieram me dizer que já posso me tornar presidente e senadora. Ou ser nomeada ministra de tribunal (exceto o nada notável conhecimento jurídico e reputação mezzo ilibada;-). De qualquer forma, fiquei radiante que a idade me torne tão poderosa!

Por outro lado, ela também traz desvantagens. Não posso mais comer uma barra de Talento castanha do Pará sem uma dorzinha de cabeça como resultado. E fazer coisa errada então? Só bem escondida. Coração mole e ingenuidade? Ridículo nessa idade!

Mas francamente, enquanto não fico poderosa, vou me lixando pras desvantagens. Sempre haverá um Engov para um fígado cansado, companhia pra fazer coisa escondida, quem adote um coração descompassado...

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Querida, cheguei!

Caminho de volta pra casa, me aborda um sujeito com um churrasquinho na mão. Oi, sou o fulano, sou militar, estou de férias. Como é seu nome? Sorrio e respondo.

Ele dá uma boa olhada pra mim e me elogia. Trabalha onde? Senhora ou senhorita? Qual a sua idade? Tem namorado? Mede a altura com a minha e completa, amanhã eu volto pra te ver, me dá seu telefone?

Fiquei sem jeito de dizer um não seco. Enrolei fazendo algumas perguntas, às quais ele respondeu com sinceridade comovente. Quando eu for a Belém vou me divorciar, essa distância não dá, odeio ficar sozinho. Além do mais, você acha certo eu viver assim, só de água mineral e churrasquinho???

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Pétalas de rosa

Segunda-feira fui à Tok Stok com um amigo em horário de almoço. Comprei: 4 taças de vinho das grandes e 3 taças de champanhe. Sei lá por que 3...

A partir daí foi uma sucessão de acontecimentos. Um amigo querido muito sumido que mora em Portugal me escreveu: está no Brasil e quer me ver.

Levanta a janelinha do MSN, era outro querido me convidando pra ver a Madonna, já com um ingresso pra mim!!!

Agora há pouco, liga mamãe, dizendo que eles vem passar comigo o aniversário de meu pai. O champanhe e as três taças já estão de prontidão!

Que mais há de cair nas minhas mãos?

sábado, 6 de setembro de 2008

O encontro

Morava num apart-hotel na Alameda Campinas. O Natal vinha se aproximando e a Paulista estava toda enfeitada de luz. Papai Noel tocava trompete em cima da agência bancária entre renas, neve e o calor infernal de dezembro.

Acordou cedo. Desceu ao subsolo, tirou o carro e foi. Enquanto esperava o desembarque pensou no caminho de volta. Não havia alternativa àquela Marginal feia e mal cheirosa. Demorou até dar-se conta de que o avião havia aterrissado há um bom tempo. Estava no terminal errado. Correu quanto pôde, mas inda longe o avistou de pé, sorriso no rosto. Abraçaram-se e foram caminhando devagar, lado a lado. Era o primeiro encontro em sete meses.

Conversaram na língua que não era dela, se embrenharam no mundo que não era dele, sem notar a paisagem nem o trânsito ruim. O encantamento estava lá. Oceano azul entre continentes. Dalí se amaram.

Amaram-se até secar a última gota do imenso mar.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Jogo de esconde

Quando eu era pequena, minha mãe tinha um truque infalível contra medo do escuro. Acender as luzes e procurar, na casa toda, fantasma, ladrão, bicho papão. Encarar o medo.

Agora fico agoniada. Que senso faz procurar resposta em lugar tão disparatado? Se quem pode dizer é a figura real, que não reside no google ou no www.

Resumo: o que é meu está em mim, o que é seu, em você. Enquanto a gente não fala, o fantasma debocha de nós debaixo da cama.