sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Natal em Copenhague

Que venham secas e temporais!
Cada volta que a terra dá,
é um dia que não volta mais.

Deixe o futuro
para o homem do amanhã.

Tenha calma, se ajoelhe,
sinta o calor da vela
Faça, meu irmão, como Jesus.

Pobre que dorme na manjedoura
Acorda crucificado.
(ou boiando agarrado à cruz)

sábado, 28 de novembro de 2009

Greve

Querido Leitor,

Faz duas semanas que ela me submete à tortura: só lê direito administrativo, regimento interno, redação oficial, funcionamento institucional. Enfim, leitura boçal. Por essas e outras, estou em greve. E ela, a abestada, sem nenhum lampejo criativo. ;-)

Amarilis.

domingo, 8 de novembro de 2009

Tirania

Ele me engana. Me encharca, me esfria e me esquenta. Controla meu decote e meus sapatos. Tirano!

Eu nada faço. Eu me submeto... Agradeço a chuva e o sol, pois nada posso contra o tempo.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Avareza

Alto da torre, o sino bate a uma.
Toda hora soma nãos à madrugada.
O sol sai, ilumina a insônia infame.
O mundo brilha além das pálpebras pesadas.

Não, não, não, não, não, não, naummmm. Sete horas!
Horas lentas de agonia, sem palavra.
O silêncio frio devora a fera.

E o que resta da noite é vil escolha,
entre o não solene e sonoro do sino
e o suspense calado da espera.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Partilha

Desenho um sorriso na tela vermelha.
Pintura rupestre, até a próxima chuva.

O vento espalha a pilha de folhas
que ele juntou. Tudo se desfaz...

Na partilha, eu levo uma folha.
E ele um sorriso estampado,
no vidro do carro sujo.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Balzaquiana

Foram anos e anos de baliza até que sua carteira de motorista atingisse a maioridade. Para os fios brancos, foi feita a tinta. Para jogo de cintura, os trinta. Hoje atrai atenções quando estaciona!

domingo, 27 de setembro de 2009

Eros e Psique

do lado de lá do arco-íris está você, sorrindo, de braços abertos,
aguardando a sua chegada.

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Conta a lenda que dormia
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada.

Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.

A Princesa Adormecida,
Se espera, dormindo espera,
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.

Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado,
Ele dela é ignorado,
Ela para ele é ninguém.

Mas cada um cumpre o Destino
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.

E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora,

E, inda tonto do que houvera,
À cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.

Fernando Pessoa

domingo, 20 de setembro de 2009

Saldo da semana

Fiz aniversário essa semana e ganhei: uma garrafinha pra minha bike nova. Um livro de um cronista divertidíssimo, que você não se arrependerá de adquirir aqui. Cinco telefonemas de gente querida. Dois torpedos de loja de roupa. Um post lindo no blog Mulher Solteira. Um happy hour com velhos amigos deliciosamente adolescentes. Um colar de côco do Xingu. O super cool Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band, dos Beatles. Beijos e abraços e mais beijos. E o filme Sétimo Selo, do Ingmar Bergman, que ainda não vi, esperando quem segure a minha mão...

Três perguntas ficam: 1. Mereço? 2. Que mais eu podia querer? 3. Que tal uma pipoca? ;-)

O Homem Maravilhoso

Quatro estudantes me acharam lá na cadeia. Pensei que fosse o fim do mundo. De fato era. Um calor, um medo, uma fome, o corpo todo queimado. Algo muito sério devia estar acontecendo. Mas o quê? Eu me perguntava. Ninguém mais falava comigo, pensei que todos tivessem ido embora.

Na última conversa, enquanto passava a lata amassada pela janela da solitária, o carcereiro me disse que era véspera do feriado de 8 de maio. A esperada Festa da Ascensão. Ele estava feliz, todos os filhos da cidade se reuniriam. Viriam de outros povoados, celebrar e rever o Monte Pelée - o maior atrativo de Saint Pierre. Monte Pelée, o vulcão, sempre foi bonito de se ver. Suas faíscas tornam qualquer festa ainda mais bela.

Quando os rapazes me encontraram, pensei que eram quatro anjos caídos do céu. Fui libertado e socorrido. Do lado de fora, vi a cena desoladora: cinza e lava de vulcão cobriam toda a cidade. Não sobrou nada. Casas e prédios derreteram, a vegetação foi toda queimada.

Soube-se depois por que a cidade não foi evacuada. Os jornais não noticiaram, pois não queriam assustar o povo. Além disso, as eleições estavam próximas. O governador queria votos.

Contaram que o povoado foi destruído em 3 minutos. A cinza e a lava mataram 30 mil pessoas. Apenas eu sobrevivi. Eu, um bandido, um presidiário. Logo que me recuperei, concederam-me regime semi-aberto. Fugi. Desde então, ando louco atrás desse tal governador. Quando encontrar enfio-lhe a faca no meio das costas.

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Em 1902, o vulcão Monte Pelée entrou em erupção. O fluxo piroclástico espalhou cinza vulcânica, a 300 ºC, e lava, a 1000 graus. A cidade de Saint Pierre, na Ilha da Martinica, foi destruída. 30 mil pessoas morreram. O único sobrevivente foi Ludger Cilbaris, um detido. As várias camadas de parede que constituiam sua cela filtraram as partículas de magma. Por ter sobrevivido, Cilbaris ficou conhecido como o homem maravilhoso.

domingo, 13 de setembro de 2009

Cenas do Bloco A

Domingão. Fui buscar meu jornal na portaria. Na volta, segurei a porta pro meu vizinho idoso do segundo andar. E foi assim que ele me disse, já dentro do elevador:
- A senhora não é só bonita. É educada e gentil.
Meu coração disparou: tum-quiticum-tum-quiticum-tum!
Não se fazem mais galanteios como antigamente... :-)

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

A liberdade

Ainda escuto o toque de recolher de Pinochet. De dentro da barriga. De dentro da incubadora. De dentro dos braços de minha mãe. Histórias contadas - de que não me lembro - impressas em mim como pegadas no cimento úmido. Eu estava lá. Eu nasci em 73, 5 dias após o golpe.

Houve um tempo em que eu sonhava que dormia dentro de um buraco na parede. Um buraco onde só cabia o meu corpo deitado. Seria algum tipo de prisão, que ainda precisava vazar do meu íntimo mais íntimo?

Por tudo que vi, ouvi e vivi, desconfio da liberdade. A cada dia ela precisa ser reinventada. Pego as chaves, ensaio destrancar o cadeado e volto atrás. Pego as chaves, destranco e vou pelo mundo. Porém, sem esquecer o caminho de volta a minha cela.

A liberdade existe? É uma utopia? Uma loucura irreversível? Deixo-me arrebatar. Ela me apaixona, mas não me corresponde. Por que eu desconfio dela.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

a palavra escrita

Ofício, parecer, memória, ata,
lista de compras, bilhete pra secretária,
email, mensagem, notas de viagem.
Verso da folha. Por que não tem escolha.

Às vezes é um doce, às vezes uma pedrada,
às vezes atrai, noutras repele,
às vezes cativa, às vezes fere.

Pode ser bonita, elegante, empetecada,
mas a palavra escrita é flexa envenenada!

terça-feira, 25 de agosto de 2009

A premissa

De acordo com o Houaiss, premissa é, por extensão, ponto ou idéia de que se parte para armar um raciocínio. Ex.: "partir de uma premissa falsa". Por que será que sempre que se fala em premissa é pra constatar que ela era falsa?

Imagino um bebezinho mamando no peito da mãe. Mesmo sem dentes e sem grande raciocínios, ele deve partir da premissa que o leite não acabará nunca. Quando a fome vem, ele chora, e logo tem um bico de peito metido em sua boca. Que mundo... Talvez seja esse o segundo melhor dos mundos, logo depois do quente e úmido mundo embrião.

De vez em quando, conto pro meu guri sobre quando ele nasceu. Desci do carro carregando você. Na mesma hora, bateu um vento e balançou de leve os seus cabelos. Você franziu a cara. Mas por quê? Ele pergunta - só pra ouvir de novo a mesma história. Por que você não sabia o que era o vento, eu digo. Ele ri muito e faz cara de quem não acredita. Meu guri ainda é pequeno e, como todo mundo, não se lembra de quando era um bebê. E parte, também como todo mundo, da falsa premissa de que nunca houve um tempo em que ele não sabia o que era o vento.

Pode haver premissa mais falaciosa de que achar que o tempo não passará? Que não aprenderemos? Que não nos tornaremos substancialmente diferentes do que somos hoje? Tenho visto muita gente argumentar que a essência de uma pessoa não muda. Discordo. Um embrião, vive num mundo perfeito. É perfeito por que é único. Só pode ser aquilo. Não depende dos atos de um embrião, o destino solitário e aguado do mundo em que vive.

Agora, saia da barriga e tome seu primeiro vento. Seja picado de pernilongo. Engasgue com osso de galinha. Leve choque em cerca elétrica. Caia de boca na quina da mesa. Vá pra escola e seja mordido pelo amigo. Faça cocô na calça e volte pra casa de cueca suja. Saia do jardim de infância e vá estudar numa escola sem parque... Em que redoma essa essência vai ter que ser guardada para não mudar frente ao mundo que a provoca?

E aí, mais uma vez, alguém pode argumentar: mas a criança muda, cresce, se forma como indivíduo. Daí pra frente, babau. Julgar-se velho demais pra provar algo tão inusitado como um primeiro vento na testa? Só pode ser também uma falsa premissa.

sábado, 22 de agosto de 2009

Mostra de Filmes Ambientais Planet Move

Ontem assisti "O mundo Global visto do lado de cá" de Sílvio Tendler, sobre o geógrafo Milton Santos. Este e outros filmes sobre a temática ambiental estão na Mostra de Filmes Ambientais Planet Move, exibida no auditório 2 do Museu Nacional, em Brasília, até dia 30.

Depois, tomei um Irish coffee no Café Cristina da 202 Norte. Hummm. Eu recomendo!

Programação
(sinopse em www.planet-move.com.br)

Dia 21/8 – Sexta-feira
19H00 - Abertura e palestra
20H15 – “Encontro com Milton Santos” ou “O mundo global visto do lado de cá”, de Sílvio Tendler (Brasil, 2006, 90 min)

Dia 22/8 – Sábado
19H00 – “Herança”, de Carolina Berger (Brasil, 2007, 26 min)
19H30 – “A grande liquidação”, de Florian Opitz (Der grosse Ausverkauf, Alemanha, 2006, 95 min)

Dia 23/8 – Domingo
19H00 – “Urubus têm asas”, de Marcos Negrão e André Rangel (Brasil, 2007, 16 min)
19H00 – “O Planeta”, de Michael Stenberg, Linus Torell, Johan Söderberg. (The planet, Suécia, Noruega, Dinamarca, 2006, 80 min)

Dia 25/8 – Terça-feira
19H00 – “Vida sem controle”, de Bertram Verhaag, Gabriele Kröber (Leben ausser Kontrolle, Alemanha, 2004, 95 min)

Dia 26/8 – Quarta-feira
19H00 – “Os homens do lago”, de Aaron I. Naar (Los hombres del lago, Bolívia/Estados Unidos, 2007, 12 min)
19H15 – “Nós alimentamos o mundo”, de Erwin Wagenhofer (We Feed the World, Áustria, 2005, 95 min)

Dia 27/8 – Quinta-feira
19H00 – “Urubus têm asas”, de Marcos Negrão e André Rangel (Brasil, 2007, 16 min)
19H20 – “Nas terras do bem-virá”, de Alexandre Rampazzo (Brasil, 2007, 110 min)

Dia 28/8 – Sexta-feira
19H00 – “Herança”, de Carolina Berger (Brasil, 2007, 26 min)
19H30 – “A grande liquidação”, de Florian Opitz (Der grosse Ausverkauf, Alemanha, 2006, 95 min)

Dia 29/8 – Sábado
19H00 – “Entre a meia-noite e o canto do galo”, de Nadja Drost (Between Midnight and the Roosters Crow, Canadá, 2005, 66 min)
20H15 – “Nós alimentamos o mundo”, de Erwin Wagenhofer (We Feed the World, Áustria, 2005, 95 min)

Dia 30/8 – Domingo
19H00 – “Os homens do lago”, de Aaron I. Naar (Los hombres del lago, Bolívia/Estados Unidos, 2007, 12 min)
19H15 –“Nós alimentamos o mundo”, de Erwin Wagenhofer (We Feed the World, Áustria, 2005, 95 min)

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

A luz do dia

















Pedi pra parar o tempo
no instante em que te rias
de minha sombra em movimento
na luz última do dia.

Porém, porque a noite cai
e rouba as cores que havia,
teu rosto perdeu os ares
de festa e de alegria.

Se pudesse trazer de volta
o minuto exato em que rias...
Riria contigo, ficaria nua.

Mas o instante se foi
e teu silêncio anuncia,
que eu nunca mais serei tua.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Passeio


quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Quero água!

Aquela que corre, escorre, estanca. Cai, penetra, brota. Infiltra, transborda, empoça. Encrespa, ondula, arrebenta. Congela, derrete, evapora. Asperge, pinga, escoa. Umedece, hidrata, molha. Borbulha, refresca, suporta. Lava, leva, limpa. Dissolve, goteja, fura. Preenche, derrama, jorra. Verte, vaza, inunda. Nubla, extingue e afoga.

sábado, 1 de agosto de 2009

4 visões do amor

Fui ao salão e aproveitei pra dar uma lidinha na Caras. Pois é, aprendi com a psicóloga da revista que hoje em dia as pessoas só querem ser bonitas, malhadas, perfeitas de corpo, etc e tais, mas não desenvolvem o espírito. Daí os relacionamentos não vão pra frente e as pessoas estão cada vez mais sozinhas... Well, well, será que até a revista Caras me fará entrar numa mini-crise existencial?

Tava voltando de férias pela longa estrada em linha reta, que liga São Paulo à Brasília, ouvindo rádio. Rádio que só pega até Uberlândia. Pois bem, tava escutando o programa do Gasparetto, conhece? É um doido aí... Ele dava esculacho nos ouvintes. Dizia que cada um se amasse, fosse amigo de si mesmo, parasse de querer ser mais do que é e se assumisse. E dizia mais, que não acreditava no amor, aquele amor desesperado dos ouvintes. Sapeei o Google e parece que ele é médium.

Um pouco antes, tinha recebido por email a entrevista da Maria Rita Kelh ao jornal gaúcho Zero Hora, em que ela falava do seu trabalho com o MST. Ficou na minha cabeça um trecho em que ela diz que o amor romântico não está na prioridade da vida daquelas pessoas. Eles estão mais preocupados em tocar seu projeto de vida, dentro da coletividade.

Antes das férias, havia comprado de um livreiro ambulante "A mão e a luva" de Machado de Assis, cuja leitura foi uma das pedidas no meu breve recesso. Dizem que é da fase romântica do autor, porém já comporta uma certa ironia, típica da fase realista. No livro, o amor não é aquele sentimento idealizado, puro e motivador da aventura humana. Mas um produto da inteligência, guiado pela realidade concreta, por interesses diversos da alma humana. E, vejam bem, foi escrito no século XIX.

E como tô contando essa história do fim pro começo, devo dizer que antes de tudo isso eu tava pensando que seria legal amar de novo, de um jeito romântico, belo e puro... Porém, o que vai ser do amor agora, depois de tanta informação? Há que se amar com inteligência e pensar com o coração?

sábado, 25 de julho de 2009

a rua

Depois de cada esquina escura o perigo espreita. São rapazes pela rua, procurando o que fazer. Meninos também. Os semáforos estão todos piscando amarelo. Como quem diz, passe. Não espere.

Também é permitido passar no vermelho, depois de certa hora. Gente perdida pela rua espera chegar sua hora de ganhar a vida. Meus vidros vão levantados. Eu tenho que me proteger do mundo! Meu carro é uma bolha ridícula.

De alguma forma as pessoas se acostumam com a violência. Com o frio da rua. Com os problemas que não tem solução. Tudo é tão banal...

Sob um outro olhar, a cidade esta linda, arborizada, cuidada. Restaurantes e bares cheios. Pessoas puxando conversa com estranhos, na beira do balcão. Cada um à procura de seus iguais.

É Campinas. Barão Geraldo pertence aos universitários. O centro é dos boêmios. Os bares da moda, dos filhos das famílias tradicionais. E a rua? A rua é de ninguém. Ninguém é o nome que se dá a quem não encontra melhor forma de ganhar a vida.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Os homens (que se defendam)

Ouviu o anjo sussurar:
- Cuidado! Se parece muito bom pra ser verdade,
não é tão bom, tampouco é verdade.

- Cuidado!
Tem preço a lascívia, a entrega.
Mulher, ponha-se no seu lugar!

- Cuidado! Disse o anjo,
mas ela não ouviu.
Ela não teme. Acha que pode subestimar os homens...

Homens inteligentes, com quem não brinco mais. Não mais!
De hoje pra trás.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Os vivos

quem, entre seus conhecidos, saiu inteiro depois das pancadas da vida?
quem não saiu sem cabelos, sem viço, sem razão?
de coração duro ou de coração arrebentado?
quem não saiu confuso, ou trêmulo, ou amedrontado?
quem não saiu dessa vida pelo menos morto?
me diz? quem?

terça-feira, 7 de julho de 2009

Feliz Cumpleaños!


Nesses quatro anos de Brasília, passei perrengue com grana, morei mal, briguei, me descabelei, me separei, cuidei de filho sozinha, minha ajudante pediu as contas, procurei muito apê sem encontrar, emagreci. Foi bro-ca-pra-ca-ra-lho!

Mas como eu sou da guerra, passei em concurso, briguei muitíssimo até meu salário subir, não sosseguei até achar o apê, contratei uma ajudante que topa dormir no serviço! Além disso, estou seguindo as ordens da nutricionista. Comendo farinha de linhaça, com o objetivo singelo de ficar muito gostosa. ;-)

Melhor que nóis na fita, só o Silvio Santos, que foi camelô!

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Receita pra tirar Jesus da cruz

Cada dia tire um prego.

Logo logo seu Jesus vai estar solto da cruz. Vai sair andando, fazer a barba, calçar um bom par de botas, desfrutar das maravilhas do mundo.

Até que em fim, passado algum tempo, só ele seja capaz de ver a sua coroa de espinhos.

Jesus - Ney Matogrosso e PLAP

domingo, 28 de junho de 2009

Primavera

Eu quis o que não devia
Deixei de ser quem eu era
Vesti cores de primavera.
Mas a primavera era eu?
Eu era ela?

Pensei que podia ter
os amores que bem quisesse
Fiz mandinga, prece
Fui noiva de quermesse.
Mas o vestido não me cabia...

Pensei fosse minha
a estrela a brilhar sozinha
bem depois das nuvens negras.
Mas a estrela não era minha.
A estrela também era dela!

Ela, a sonhadora
Que mora em mim, prisioneira.
É dela a primavera,
a quermesse
e a estrela.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Vamos embora!

19:11, sexta-feira, encontro o chefe no corredor.

- Senti sua falta na reunião de ontem... - E disse mais, disse que eu tenho boas ideias!

Tudo bem, não é mais hora de estar trabalhando, mas ouvir isso fechou com chave de ouro a semana. Empurrou a nuvem negra de mim, como uma brisa marinha.

Agoradeus workaholismo.

"Vamos ver a campina quando flora, a piracema, rios contravim Binho, Bel, Bia, Quim, vamos embora!"

domingo, 21 de junho de 2009

A hora certa

Tudo na vida tem hora certa pra acontecer, certo?

Achei um DVD na mochila do meu guri. Pornô!!! Depois de muita insistência minha, finalmente ele entregou o jogo. "Tava no chão da banca de revista e eu peguei". Simples assim... Desnecessário dizer que fiz um pequeno discurso. Expliquei o que é roubar, que as pessoas grandes são presas por causa disso, expliquei que filme pornô é coisa pra maiores de 18 e não para menores de oito e bla-bla-bla. E lá foi ele devolver o artigo, sob a minha supervisão. Era hora disso acontecer? Ele pensou que sim. Eu pensei que não.

Se tudo acontecesse na hora certa, não haveria tédio nem susto. Ninguém ficaria a vida toda esperando ganhar na loteria, encontrar o verdadeiro amor, dar volta ao mundo. Ninguém teria que esperar uma semana inteira pra jogar vídeo-game. Ninguém seria pego de surpresa por uma oferta de trabalho ou por um olhar intencionado. Tudo seria menos frustrante, mais previsível e mais organizado.

Então, pra mim, hora certa não existe mesmo! Mas, só pra garantir, acho que vou acertar os ponteiros com os de mamãe, do meu chefinho, da caixa econômica federal e do vizinho do quarto andar... E aí no seu relógio, que horas são?

O fim do amor

Toda noite, antes de dormir, ele amola o punhal e o deita debaixo da cama.
É seduzido no meio da noite e revida a punhaladas. Assassina!
Já arrancou a praga, mas ela insiste em brotar em seu canteiro árido.
Vai matar, enterrar e chorar sobre a lembrança uma centena de vezes...
Até que a terra finalmente crie uma nova, pequena e frágil flor.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Só pra lembrar

É a primeira vez que trago o computador pra minha cama. Mas um dia como hoje merece terminar no conforto macio desse edredon, e derramar uma linha no blog. Adoro essa internet wireless, que me permite fazer café e olhar o email, ao mesmo tempo. Acho que computador e cozinha combinam bem. Quarto e cama, pra mim, já combinam com outra coisa... Mas isso é assunto pr'outro post.

O dia hoje foi difícil, emocionado, tão cheio de momentos diferentes que parece que não foi um dia só. Logo de manhã, ele chorou de um jeito que me quebrou. Tudo por causa de um dente que precisou fazer canal. No fim da sessão, a dentista disse que nunca tinha visto um menino tão corajoso... Ser corajoso, meu bem, não é fácil. Ser corajoso é enfrentar a dor, como ele fez, sabendo que esse é o único caminho pra parar de doer.

Pouco mais tarde escutei, do lado de cá da linha, minha mãe narrar o assalto, de 8:30 da manhã. Isso é hora de vagabundo dormir, não de sair por aí tomando o carro da mãe de ninguém. Mas eles não pensam assim. O carro, a bolsa, o estresse que fica um bom tempo, e a gripe que vai pegar quando passar o susto... Susto, medo, tristeza deixam a gente doente, sabia?

Teve tudo isso... Enforquei a manhã, trabalhei a tarde, um tanto desconcentrada. Chorei na minha cadeira, lugar onde não se chora. Fui vista assim indefesa pelos mais chegados. Deixando a dó salgada correr dos meus olhos. Um sentimento de perda e de amor, que faz tempo eu não tinha. Ver sofrer quem se ama dói. Mas é aí que a gente lembra que sabe sim amar.

domingo, 14 de junho de 2009

O inferno são os outros

Ontem durante a pizza:

- Se você pudesse mudar alguma coisa na sua vida, o que seria?
- Ah, mamãe, minha vida é perfeita. Pra que eu ia querer mudar alguma coisa?
- (suspiro)...
- Quer dizer, se eu pudesse mudar alguma coisa, fazia a mãe do Miguel matricular ele em outra escola! Ninguém da minha escola gosta dele...

Migueis do mundo, uni-vos e matriculai-vos todos numa escola bem longe de nós! Amém!

sexta-feira, 12 de junho de 2009

O coração romântico

Será puro despeito, ou ando mesmo a preferir chocolate, vinho tinto, queijo branco, morangos, livros e casa nova a um romance? Será que a vida me fez uma mulher fria e dora, digo dura? Talvez! Admito que não ando soltando suspiros, nem vendo de perto casais apaixonados...

Dizem que quando a gente engravida, só vê grávidas pra todo o lado. Então, quando a gente está chata, só deve ver chatos.

Mas cadê o sonho? Só vem quando durmo. Sonho que o João, que já não quero mais, está apaixonado por outra e usa um colar de pérolas de água doce. Logo ele que é tão mauricinho... Sonho que o Chico volta a bater na minha porta e eu não abro. Ele traz flores e as entrega para o porteiro que, afinal, merece mais que eu. Sonho que a água inunda a minha casa, mas eu não me afogo.

Sonho tudo o que está na minha cabeça e não tenho coragem de pensar. Por que eu acho mais graça nas coisas que nos amores, mesmo quando chega o dia dos namorados.

domingo, 7 de junho de 2009

A sorte da abelha

Quando olhei pra cima, uma já estava morta. A outra voava freneticamente entre a luz e o prato. Tocava a morta e voltava para a lâmpada, ora empurrando, ora virando a outra, num claro dilema entre salvá-la e fritar-se na luz.

Fiquei um longo tempo em transe, até que o menino teve a idéia. Apagamos a luz do quarto e acendemos a do escritório. Ela veio. Apagamos também essa, abrimos a janela, fechamos a porta atrás de nós. Finalmente ela foi embora.

Eu não sabia que as abelhas eram tão solidárias, mas sabia que aprisionar-se na luz lhes acontece. Há seres humanos que também são assim. Sofrem de encantamento e tardam a perceber que pode ser sinal de sorte, quando uma luz se apaga.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

a Terceira Lei

Quando saio da inércia, ela acelera em sentido contrário, na proporção inversa de sua massa e da minha. Pobre de mim, nada lhe causo... É a Terra que me leva em órbita.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Post da casa nova

Atrás da porta de madeira trancada a dois cadeados bem na minha frente, outra porta, de metal, branca, vazada, está trancada também. Mas tudo bem, eu tenho as chaves que me levam à rua.

Moro num prédio com elevadores. Último andar, no canto. Só um casal de idosos me avizinha. Ninguém mais. Mas a uma quadra, está o cinema. Vizinhos imaginados por gente de toda a parte povoam a tela.

Tudo aqui tem um cheiro amadeirado. Picasso e Tarsila descansam no chão, no meio da noite silenciosa. Eu olho tudo de novo, de novo, e escrevo o que me parece ser.

domingo, 29 de março de 2009

Tanto faz

A emoção está na palavra e no silêncio. Transborda ou é contida. Tanto faz.

sexta-feira, 27 de março de 2009

Os caras e eu

Lá no trabalho é assim. Meu vizinho da porta ao lado, sempre que viaja, traz chocolate, cocada, castanha de caju - nham, nham! Bate na porta, deixa na minha mesa, e me chama de jovem.

Na primeira semana, descobri que o vizinho da diagonal é irmão de um ex meu, dos maravilhosos tempos de solteirice em Sampa. Um é a cara do outro.

Meu colega de sala é católico e me chama de irmã. Jeito fácil de não trocar meu nome, dizem os mais céticos. Tem outro que me encontra na escada e me chama de fia. Tá tudo em família.

Tem também o meu guru, que vem trazer notícias sobre trabalho e dinheiro, ouvir meus resmungos e contar histórias do tempo dos bandeirantes. E também tem M, que é um doce, e foi comigo ao Paranoá, saber onde mora a candidata que eu contratei como secretária do meu lar.

Mas nem tudo é perfeito entre mim e os caras. Entre sujeitos tão legais, com quem trabalho e tenho amizade, tinha que ter alguém como o Bigou, não é?

domingo, 22 de março de 2009

E o assunto rende...


Angeli, Chiclete com Banana, Folha de São Paulo, 22 de março.

sábado, 21 de março de 2009

Par perfeito

Naquele dia ela não jogou na loteria, pois tinha muito o que fazer com o seu dia. Creme de chá-verde, corpo inteiro, pele macia. Do outro lado da cidade, ele acordou. Se olhou no espelho, cortou os pelos do nariz, vestiu o terno.

Cada um pegou seu carro. Cada um tomou seu rumo. Cada um recebeu uma cantada. Cada um participou de uma reunião. A certa altura, ela se lembrou da carinha linda dele. E ele, da carinha linda dela. Um dos dois, não sei quem foi, telefonou.

E se viram, ouviram, cheiraram, tocaram, comeram. Como se fosse a primeira vez. Como se fosse a última. Mas aí, meus amigos, retenham, um segundo, seus suspiros. Cada um tomou seu rumo, cada um cuidou da vida...

Ninguém ligou, ninguém cobrou. Pois os dois se conhecem bem, como a palma da mão esquerda.

domingo, 15 de março de 2009

Por causa de biscoitos

Três jovens vinham caminhando devagar e conversando, quando um quarto jovem de camisa vermelha chama pela moça do grupo. "Garotinha, quero ver a nota fiscal de tudo que vocês têm aí". Ela tenta desconversar, mas o moço da camisa vermelha fica firme. "Ontem eu não fiz nada, deixei você sair. Mas hoje eu quero a nota de tudo!"

A moça sai andando. O jovem da camisa vermelha, atrás. Ela pergunta se ele gravou o acontecido. Ele acena com a cabeça. "Mais um passo, eu chamo a polícia". Ela diz que não vai pagar por aquilo e arremessa os três pacotes de biscoito no gramado do meu prédio. Diz que ele chame a polícia e que prove o que ela fez.

Os três jovens saem andando. O moço da camisa vermelha recolhe os pacotes de biscoito do chão. Pára por um minuto, pensando o que fazer. Decide ir atrás deles. Ele caminha rápido e fala, nervoso, ao celular. Eu fico lá, assistindo à cena. Todos somem no meio da noite.

Eu poderia ter três pacotes de biscoito debaixo do braço e o coração a saltar da boca. Eu poderia vestir a camisa vermelha e zelar pelo patrimônio do estabelecimento. Mas nada tenho a ver com nenhuma das partes. Subo as escadas, me sento na cama do meu pequeno e penso na tarefa gigante que é educar alguém.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Pessoas parecidas comigo

Onde estão as pessoas parecidas comigo nesse mundo? Escondidas em casa, tomando vinho sozinhas? Esperando proposta tentadora? Será que as pessoas parecidas comigo estão aborrecidas com o trabalho? Com dor nas costas? Cansadas do próprio limite? Achando a vida boba? Entediadas na hora do almoço? A fim de comer outra coisa? Suponho que sim, ou não seriam pessoas parecidas comigo.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Pandora ou a invenção da mulher

"Mas as artimanhas da guerra entre Zeus e Prometeu não terminaram. Zeus escondeu o fogo, Prometeu o roubou; Zeus escondeu o trigo, os homens trabalham para ganhar seu pão. Contudo, Zeus ainda não está satisfeito, acha que o fracasso do adversário não é total. Zeus dá uma gargalhada, como gosta de fazer, e lhe reserva mais uma humilhação. Terceiro ato. (...)

A primeira mulher está ali, diante dos deuses e dos homens ainda reunidos. É uma estátua fabricada, mas não à imagem de uma mulher, posto que ainda não existe nenhuma. É a primeira mulher, o arquétipo da mulher. O feminino já existia, porquanto havia deusas. Essa criatura feminina é modelada como uma parthénos, à imagem das deusas imortais. Os deuses criaram um ser feito de argila e água, ao qual imprimem a força de um homem, sthénos, e a voz de um ser humano, phoné. Mas Hermes também põe em sua boca palavras mentirosas, dota-a de um espírito de cadela e de um temperamento de ladra. Essa estátua, que é a primeira mulher, da qual saiu toda a "raça das mulheres", tem uma aparência externa enganadora, tal como certas partes do touro sacrificado ou como o funcho. É impossível contemplá-la sem se sentir maravilhado. Ela possui a beleza das deusas imortais, sua aparência é divina. Hesíodo conta isso muito bem. Ficamos extasiados com sua beleza realçada pelas jóias, o diadema, o vestido e o véu. Dela irradia-se a Kháris, um charme infinito, um brilho que submerge e doma quem a vir. Sua kháris é infinita, múltipla, pollè kháris. Homens e deuses dobram-se ao seu encanto. Mas por dentro esconde-se outra coisa. Sua voz vai lhe permitir conversar e tornar-se a companheira do homem, seu dublê humano. Mas a palavra é dada a essa mulher não pra dizer a verdade e expressar seus sentimentos, e sim para contar mentiras e esconder suas emoções. (...)

Assim, ali está Pandora: luminosa como Afrodite, mas semelhante a uma filha de Noite; feita de mentiras e faceirice. Zeus não cria essa parthénos para os deuses, mas só para os mortais. Assim como se livrara da disputa e da violência enviando-as para os mortais, assim também Zeus lhes destina essa figura feminina. (...)

Por que, segundo os relatos gregos, Pandora, a primeira mulher, tem um espírito execrável e um temperamento de ladra? Isso tem a ver com as duas primeiras partes deste relato. Os homens já não dispõe naturalmente do trigo e do fogo como antes, sem esforço e em permanência. Agora, o trabalho faz parte de sua existência: levam uma vida difícil, apertada, precária. Têm que estar sempre pensando em restrições. (...) Ora, essa Pandora, como todo o génos, toda a "raça" das mulheres que dela sairá, tem justamente a característica de viver insatisfeita, sempre a reivindicar, incontinenti. Não se satisfaz com o pouco que existe. Quer se fartar, ter o máximo. (...) Não só devoram e esgotam todas as reservas, mas é essa a razão principal que leva a mulher a tentar seduzir um homem. O que ela quer é o celeiro. Com a habilidade de seu discurso sedutor, de seu espírito mentiroso, de seus sorrisos e de sua "anca empetecada", nas palavras de Hesíodo, ela faz para o jovem solteiro suas poses de sedutora, mas na verdade está de olho na reserva de trigo. E todo homem, como Epimeteu antes dele, fica boquiaberto, maravilhado com a sua aparência, e se deixa agarrar.

Se Prometeu urdiu uma artimanha para roubar o fogo de Zeus, atraiu para si mesmo uma réplica encarnada pela mulher, sinônimo de fogo ladrão, que Zeus criou para infernizar a vida dos homens."

Esse trecho foi retirado do livro de Jean-Pierre Vernant, "O universo, os deuses, os homens".

Viva 8 de março! Que a gente consiga manter o bom humor, mesmo com todos os arcebispos excomungantes e com todas as injúrias que ainda acontecem por aí.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Ela

Escuta o que diz a lua, brilhante na noite escura:
- Minha luz é reflexo da tua.

E o que traz a onda, que arrebenta na areia?
Nem sempre a maré vermelha, talvez seja branca espuma...

E a boca que fala tanto, tanto que nem se escuta,
quer te deixar biruta ou beijar a tua boca?

segunda-feira, 2 de março de 2009

Conviver com o diferente

Felizmente não vou precisar inventar teorias pra ensinar meu filho a conviver com o diferente. O mundo já está fazendo a parte dele.

Cada dia cai uma barreira. Primeiro foi o muro do condomínio em que eu morava e não moro mais. Meu prédio não tem vigilância 24 horas e não tem cerca. Brasília não permite muros. Quando chove, às vezes algum passante ou mendigo se abriga debaixo do meu prédio. Adolescentes se reúnem. Um casal de garotas namora. O espaço é público.

M. me contou que Lúcio Costa planejou Brasília com prédios de até seis andares, por que essa é altura da qual a mãe pode chamar o filho da janela. E eu chamo. Minha janela dá vista pro parque.

Tenho vontade de me associar a um clube. Mas dá preguiça. Então vamos nadar no lago, apanhar limão ou amora no pé, dar uma volta de bike pela quadra. Quem é a criança de cidade grande que ainda pode fazer isso? Lógico que um ambiente mais restrito seria mais tranquilo, sem cachorro solto da coleira, sem gente assando churrasco ou querendo dividir a sombra da árvore que você viu primeiro. Mas de novo a habilidade de conviver é posta à prova. Eu também preciso aprender.

Às vezes é difícil explicar por que, podendo pagar, pus meu filho numa escola pública. Não que esteja me sobrando dinheiro para uma escola cara. Mas, como diz o Espanhol Juan Manuel Serrat, parto do princípio que "no hay que confundir valor e precio". A escola é a primeira comunidade. A troco de quê, então, separar os pequenos de acordo com o bolso dos pais? Se existe uma escola pública boa, acho que vale a pena estar nela. Nem que tiver que dormir na fila.

Enfim, acho que não há preço para o convívio com o diferente. Não há por que se limitar. O mundo é grande e cabe inteiro dentro de uma cabecinha aberta, curiosa, e que saiba gostar do que é diferente. E sermos diferentes não é então o que nos faz mais humanos?

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Fantasia

Neste carnaval vou me inspirar na natureza.

Talvez eu me camufle, como bicho-folha,




















como sapo, eu vire pedra,














ou fique assim simpática, como um bicho-pau.
















Não sou tão fã de carnaval...

Mas, se me der na veneta,

me fantasio de flor, como a aranha,
















ou ponho olhos de coruja, como a borboleta.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Amores de ocasião

Abrantes disse a Helena que ia morar com a amante. Aurora levou Pedro pra casa, não gostou e o mandou embora. Amanda e Alberto não se separam, por causa do apartamento. João vive encontros de ocasião. Fernanda quer namorar, mas não encontra um par. Edgar gosta de jovens dançarinas que saibam cozinhar. Júlio sonha com os lábios de Primavera, mas ela prefere as flores.

E assim a vida se desenrola. Rufa o tempo, embranquece os cabelos. Todos são o que são... Ninguém está muito certo e todo mundo tem razão.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

De quem é a história?

Num dia exatamente como hoje a Rússia foi invadida pela Mongólia. Nasceu Camões. Um terremoto abalou Alepo, na Síria. A Grã-Bretanha declarou o fim da guerra contra os Estados Unidos. Aboliu-se a escravidão nas colônias francesas. Foi descoberto o Codex Sinaiticus no Egito.

Num dia assim como hoje, debaixo desse mesmo sol, Gandhi foi libertado após dois anos preso em Bombaim. Hitler se autoproclamou comandante supremo das forças armadas alemãs. Roosevelt, Churchill e Stalin se reuniram na Conferência de Ialta, na Crimea. O Sri Lanka se tornou independente. Começou luta armada pela independência de Angola. Yasser Arafat tornou-se chefe da Organização para Libertação da Palestina.

Nesse mesmo dia do ano, a sonda Mariner IX transmitiu fotos de Marte. Um terremoto de 7,3 graus aconteceu em Haicheng, na China. Outro abalo sísmico atingiu a Guatemala e Honduras. E mais outro assolou o Afeganistão.

Também em quatro de fevereiro, Hugo Chaves tentou tomar o poder na Venezuela. Amadou Diallo foi assassinado pela policia de Nova Iorque, acirrando conflitos raciais. Foi promulgada a constituição da Sevia e Montenegro.

Muito antes de quatro de fevereiro se tornar um dia importante pra mim, ele já tinha visto muitos acontecimentos. Já havia sido motivo de comemoração e lamento na história desse nosso mundo.

Que outras coisas importantes ainda acontecerão em quatro de fevereiro? Que guerras serão detonadas? Que avanços tecnológicos serão anunciados? Que descobertas científicas? Que obras de arte serão compostas? Que tesouros serão descobertos?

Muitos quatro de fevereiro virão, para serem vividos e preenchidos pela história. Porém, de minha parte, sei exatamente o que estarei fazendo em cada um deles. Celebrando um grande feito do meu mundo particular. Terei lágrimas de emoção nos olhos por lembrar do dia em que você nasceu. Meu pequeno Gabriel.

1238. 1524. 1783. 1794. 1859. 1924. 1938. 1945. 1948. 1961. 1969. 1972. 1975. 1976. 1998. 1992. 1999. 2003.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Amy Winehouse e Sex and the City

Quem acompanha esse trem, já percebeu, faz tempo, que eu não sou uma mulher descolada. Na verdade, faço mais o gênero bicho do mato.

Tenho vários exemplos que ilustram o caso: eu nunca tinha ouvido Amy Winehouse, até que semana passada comprei o primeiro CD dela - lançado há cinco anos. Sex and the City, tão comentado e elogiado, eu também não tinha visto até ontem, quando aproveitando uma gripe e a estafa de uma semana pra lá de conturbada, trouxe a primeira temporada pra casa, que, diga-se de passagem, já tem 10 anos.

A contar por esses dois exemplos, devo admitir que realmente tenho perdido coisas interessantes. Ando pensando, só agora, coisas que outras pessoas já pensaram, há um bom tempo.

Quanto à Amy, valeu à pena. Ela era apenas uma garota neste primeiro disco Frank, cuja qualidade musical me surpreendeu. Tem faixas que lembram Billie Holiday e letras bem humoradas e atuais, sobre relacionamentos, adolescência, infidelidade. Adorei "I heard love is blind".

Sex and the City também foi um programa divertido, que estava na prioridade fazer. Alguns amigos, que sabem dos meus dilemas de mulher 'frescamente' separada (ui! já faz um ano e meio...), vinham me dizendo que eu precisava ver a série. Pois está vista a primeira temporada.

Lógico que me identifiquei com uma porção de situações. Especialmente, a nova relação com os pares casados, os caras de vinte e poucos que chegam junto, e os de quarenta, que não chegam... a vontade de tornar o sexo uma diversão saudável e descomprometida, e a dificuldade de por isso em prática. Em matéria de relacionamentos, imagino que toda mulher solteira tenha um pouco de cada uma das personagens da série, dependendo quem é o homem da vez.

Por outro lado, eu não sou uma mulher solteira de trinta e poucos. Eu já fui casada e tenho filho. Não circulo em lugares glamurosos, não conheço vários homens interessantes dia-sim dia-não, e os relacionamentos não estão no centro das minhas atenções. No momento, eu carrego piano.

Tenho pra mim, que o relacionamento bom exige amor entre as partes. A essas alturas, não quero casar, não quero dividir as contas, não quero conhecer a mãe de ninguém. Quero o meu canto, o meu sossego, autonomia nas decisões. Mas também sexo, afinidade, interesse, estabilidade.

Isso posto, reconheço que não existe um manual sobre o que as mulheres ou os homens querem. É necessário aprender a se relacionar com o outro e ter um pouco de paciência, pois ganhar a confiança de alguém, leva o seu tempo. Eu também não saio por aí me entregando a troco de qualquer frase feita, não é mesmo? Tenho peculiaridades que podem atordoar algum coração ingênuo. Assim, não vou esperar que ninguém se entregue só por causa de uma ou outra paixonite minha.

É certo que, às vezes, a vida nos prega uma peça. E toda a razão escoa frente a um ser encantador ou a uma noite estupenda de sexo, abso-fuckin-lutely! Daí a gente vê o que faz: escuta um pouco de Amy Winehouse ou assiste a um episódio de Sex and the City, pra não achar que é só com a gente.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Tô me guardando pra...

... quando o carnaval chegar

Quem me vê sempre parado, distante garante que eu não sei sambar
Tô me guardando pra quando o carnaval chegar
Eu tô só vendo, sabendo, sentindo, escutando e não posso falar
Tô me guardando pra quando o carnaval chegar
Eu vejo as pernas de louça da moça que passa e não posso pegar
Tô me guardando pra quando o carnaval chegar
Há quanto tempo desejo seu beijo molhado de maracujá
Tô me guardando pra quando o carnaval chegar
E quem me ofende, humilhando, pisando, pensando que eu vou aturar
Tô me guardando pra quando o carnaval chegar
E quem me vê apanhando da vida duvida que eu vá revidar
Tô me guardando pra quando o carnaval chegar
Eu vejo a barra do dia surgindo, pedindo pra gente cantar
Tô me guardando pra quando o carnaval chegar
Eu tenho tanta alegria, adiada, abafada, quem dera gritar

(Chico Buarque)

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Confissão

Eu já lutei, desesperadamente, pelo que não seria meu. Renunciei ao que gostava, só por medo. Já cortei caminhos, para um fim que não aconteceu. Deixei de ver a vista, por causa da pressa.

E continuo fazendo isso, porém com mais cuidado. O tempo passa, a gente aprende. É precioso o presente. Rio sozinha do que vivi, a minha história. Os momentos de coragem não saem da memória.

Onde vou, não estou bem certa, mas quero viver bastante. Abraçar o que me desperta e saber que sou mais livre do que antes.

domingo, 25 de janeiro de 2009

A voz do menino

É doce ouvir a voz do menino, nesta noite de domingo. Ele joga dominó com o avô e a avó, longe dos meu olhos. Ele está feliz, por que ganha o jogo. Eu estou com saudades maiores que o mundo.

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"A avó
vive só.
Mas se o neto meninó
mas se o neto Ricardó
mas se o neto travessó
vai à casa da avó,
os dois jogam dominó."

Cecília Meireles

sábado, 24 de janeiro de 2009

Alguma coisa útil


Seu carro tem rodas de liga leve? Então ponha as barbas de molho. Outro dia, fui jantar com um amigo depois do expediente e, em plena Asa Sul, encontramos o carro do moço sem as rodas do lado do acompanhante.

A primeira reação do meu amigo, depois de xingarmos até a última geração do ladrão, foi ligar para o Seguro. Só pra descobrir que o Seguro não cobre, por que "roda é acessório". Realmente, roda é item dispensável num carro, né mesmo? A pedida era vir o guincho e o carro ser levado pro depósito, lá no Sia, já que o Seguro sequer empresta rodas para o cidadão ir embora no meio da noite.

Mas, meu amigo teve uma ótima idéia: usar os nossos estepes. Meu carro é da mesma montadora, apesar do aro ser um número menor do que o dele. Como os pilantras deixaram os parafusos, colocamos as rodas e fomos embora.

O Seguro mandou o guincho, que foi embora vazio. Mas o motorista, gente boa, nos deixou umas dicas interessantes: (1) roubo de roda tá super comum, tem uma quadrilha solta no pedaço; (2) existe, no mercado, um tipo de parafuso com segredo, aberto com uma chave especial, que impede que o ladrão solte a roda; (3) boletim de ocorrência pode ser feito via internet.

E foi assim que, pela primeira vez, esse blog falou de alguma coisa útil. Pois é, pois é.

Moral da história: se quizer que nada lhe aconteça, não se mexa!

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Mulher das cavernas


No momento, duas preocupações tomam completamente a minha mente: cavernas e a possível futura casa.




Será coincidência ou alguma conjunção astral? ;-)

domingo, 18 de janeiro de 2009

Fogo e vidro estilhaçado

Hoje eu queria um homem ao meu lado,
com quem falar do fogo e do vidro estilhaçado.
Ah, viver é perigoso e dá trabalho...
O acidente me lembrou - na suficiência comigo mesma,
que uma pessoa não se faz só
e quem foge dos outros, como eu, não é abraçado.
Minha boca ainda tem gosto de queimado.
Mas não foi nada. Só fogo subindo o pano de prato
e um vidro de fogão quebrado.

Já passou.

sábado, 17 de janeiro de 2009

Paciência

Passa estação, dentro desse vagão. Luz e escuro, escuro e luz outra vez. Freia e acelera. Alguém bate sua carteira, alguém segura sua mão.

Tudo passa: ilusão e raiva. Paixão passa, desmancha dor. Novas linhas na sua cara de tanto rir e chorar.

Tudo é lento demais a passar, só até que evapore no ar.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Contando carneirinhos

Tantas coisas pra fazer e não consigo dormir. Tomei chá, escrevi a lista de amanhã, pernilongo sacana me picou.

Se eu vencer os desafios de janeiro, juro que asso uma perna de carneiro.


Registrado em ata, às 2:52 da madrugada de 13 de janeiro, lua cheia.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Como se come e vive o gosto da comida

Todo mundo gosta do que é bonito, cheiroso, saboroso e delicado ao toque. Porém, cada pessoa percebe de forma diferente a luminosidade, o contorno, a profundidade e, quem sabe, até as cores.

Tudo que já foi inventado pra agradar nossos ouvidos, paladar e olfato, acho que não é nem um centésimo do que ainda vai se criar, se os homens não se matarem antes. A pele, maior órgão do corpo humano, tem sabor, textura, cheiro e cor, e é capaz de captar estímulos mesmo enquanto dormimos.

Se a imagem, o som, o aroma, o sabor e a textura causam sensações distintas em cada pessoa, o que dizer então da combinação dos cinco sentidos em cada indivíduo, a cada momento da vida?

Por essas e outras, não quero ser escrava da razão. Dizia a minha avó que quando a cabeça não pensa, o corpo padece. Talvez nem sempre. Às vezes, é quando a razão não atrapalha, que os sentidos captam melhor as ilimitadas possibilidades e surpresas que pairam, sutis, ao nosso redor.

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Vou experimentar um dia
O delicado da vida
Vou aprender
Como se come e vive
O gosto da comida


Que o Deus Venha. Clarice Lispector, Cazuza.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Para você!

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Então me diga

o que você come? que bebida prefere? o que te seduz e o que te repele? a que horas dorme? de que tem vontade? o que vê neste blog? de que tem saudades? a quem você ama? a quem não suporta? o que quer comprar ou varrer da sua porta? tem tesão pelo cravo ou pela rosa? que parte do seu corpo é mais gostosa? por onde andou? quem te chamou?

sábado, 3 de janeiro de 2009

Abrir a casa!

Quase um mês a casa fechada. A lâmpada do escritório queimou, a moringa secou e, mais uma vez, meu ficus sobreviveu sem nenhuma água. Tudo está um pouco empoeirado, mas do jeito que foi deixado.

A máquina lava a roupa suja do ano passado. Enquanto isso, retorno ao cotidiano, observada pela árvore de flores alaranjadas, que quase invade minha janela. Entre mim e ela só a tela.

O que há de novo em dois mil e nove? Nem o mundo, nem a árvore, nem eu. De novo, por enquanto, só o nove. Tudo está como foi deixado. O novo espera, latente, brotar do desejo ilimitado, de muitos planos e das pequenas atitudes cotidianas.

Tim tim, feliz Ano Novo!