domingo, 24 de fevereiro de 2008

Tempo da Incerteza

Contra as minhas expectativas os quase 35 se apresentam como tempo de incertezas. Tudo o que foi plantado, germinou e foi colhido. Agora a terra está de novo nua, esperando semente das minhas mãos, e o ciclo de sol e chuva em que eu não mando.

Mas como não é possível desconstruir todo o passado - apenas partes dele vão se desmontando, abrindo espaços - não voltarei aos 20 anos, ao frescor e aos sonhos do passado. Meu corpo não perderá a memória de ter sido fecundado pelo tempo, pelos livros, por um homem, pelo sol que me castigou na estrada. Fica o filho, fica o olhar mais amansado sobre o mundo, fica uma certa calma de quem já pode ver a vida como mais que a soma de todos os seus momentos.

Jogar novas sementes na terra nua, esperar que faça sol e chova, pra que chegue o tempo de uma nova colheita. Enquanto isso, educar o filho, cuidar da casa, pintar os cabelos, viver os momentos ainda desconexos, que darão forma a um novo futuro. Sem esperar nada de concreto, deixando aberta a porta que trás e que leva embora por que, afinal, esse é o tempo da incerteza.

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