sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Outra vez, sem você

Pela milhonésima vez, estou parando de fumar. Não sei se ligo para R, pra perguntar o nome do remedinho que ele tomava pra parar de fumar e dizia assim: "supervejo passarinhos verdes". Esse remedinho talvez fosse uma boa...

Meu colega de sala está orando por mim. Ele torce pra que eu pare de novo. Da última vez, fiquei um ano sem fumar. Voltei em agosto, há três meses. Uma vez fumante, a coisa comigo é assim, quando tudo fica demais, o cigarro entra. Quando ouso fazer o que quero, ele sai.

Um dos problemas é que paro de fumar "cold turkey". Que raios é 'cold turkey?', você pode perguntar. É isso mesmo, peru frio, expressão inglesa que quer dizer sem adesivinho de nicotina, sem chicletes nojentos de nicotina, sem remedinhos. Pra citar o Ultrage a Rigor, que dá título a este blog, "eu me mordo, eu me rasgo, eu me acabo, eu faço bobagem".

O melhor de fumar é ter motivo pra sair da sala, do prédio, do saco do trabalho. Ter um momento para livre associação de idéias. Os fumantes compartilham isso. É por isso, e não só por que fumante fede, que fumante quase que só tem amigo fumante. O vício é solidário.

Então eu estou aqui, há 70 horas sem cigarro. Ainda, portanto, contando em horas. Amanhã ou depois passarei a contar os dias. Depois serão meses, pra poder, um dia, em fim, chegar a contar em anos. Eu nunca logrei contar em anos as minhas façanhas até aqui.

Meu pai diz que um fumante fica mais perto de abandonar definitivamente o vício a cada tentativa frustrada. Eu acho que ele está certo. Desta vez estou tendo menos abstinência, pois foram poucos meses de recaída. Mas, independente disso, o vício, pra mim, afeta mais o psicológico. Eu sofro 10 dias a abstinência química. Depois fica bem leve. Agora, aquela vontade de sair, de respirar ar novo, de distrair o pensamento, essa fica me tentando. Eu penso melhor do lado de fora das paredes do prédio.

A cidade de Brasília oferece um bom incentivo a parar de fumar. Aqui não se fuma em repartição pública, dentro do trabalho, em restaurante, boate ou bar. Só conheci uma casa noturna em Brasília que permitisse fumar (ok, conheço poucas casas noturnas em Brasília). No meu trabalho, por exemplo, se estiver chovendo, não existe área coberta que abrigue um fumante. Quer fumar, tome chuva! Os não-fumantes e a própria lei colocaram o cigarro em seu devido lugar. Lugar de vício decadente de pessoas que fumam ao relento.

Então é assim. O mundo segue, adaptando-se continuamente às mudanças internas do ser humano. Hoje mesmo, na maior cara de pau, impuz duas regras ao meu colega de sala: 1) nunca puxe conversa sobre cigarro comigo; 2) fale sobre cigarro comigo se eu puxar conversa. E a resposta muito fofa que ele deu, não sem me apontar um dedo, foi essa: claro que sim, faço tudo para o seu bem... agora, se voltar a fumar, volto a te pegar no pé. Ok, pelo menos fizemos um trato.

Quando alguém pára de fumar os amigos fumantes sempre perguntam: por que logo agora? Como se devesse haver uma resposta objetiva pra isso. Sei lá, o médico mandou ou estou doente ou descobri que o cigarro da câncer. Cada um tem suas razões. Faz algum tempo que eu venho colecionando as minhas. Primeiro por que fede, é decadente, emagrece e suja a pele. Também por que é dinheiro mal gasto. Depois por que o círculo dos fumantes anda cada vez menor e mais vicioso. Por último, por que eu sou o principal exemplo de um guri de quase 7 anos.

Será que dessa vez vai?

Um comentário:

Fernando Lyrio disse...

Oi Moça Bonita,
Puxa... vivendo e conhecendo as pessoas... e eu que nem sabia que você fumava... ou sabia e nem registrei (o que é sinal de que via o cigarrinho como muito distante de você?). Anyway, poucas vezes vi um fumante falar de sua relação com o cigarro de forma tão leve quanto você... quase nem dá pra condenar o vício... Você sabe que não sou de julgamentos... mas se você quer parar, se sabe que isso não é bom pra você, se quer dar exemplo pro molequinho de 7 anos, então você tem toda minha solidariedade, apoio, força. Se quer sugestões, substitua por vinho e chocolates, vícios também, é verdade, mas bem mais saudáveis. Beijo grande pra vc, a caminho da Polônia, F.