domingo, 20 de setembro de 2009

O Homem Maravilhoso

Quatro estudantes me acharam lá na cadeia. Pensei que fosse o fim do mundo. De fato era. Um calor, um medo, uma fome, o corpo todo queimado. Algo muito sério devia estar acontecendo. Mas o quê? Eu me perguntava. Ninguém mais falava comigo, pensei que todos tivessem ido embora.

Na última conversa, enquanto passava a lata amassada pela janela da solitária, o carcereiro me disse que era véspera do feriado de 8 de maio. A esperada Festa da Ascensão. Ele estava feliz, todos os filhos da cidade se reuniriam. Viriam de outros povoados, celebrar e rever o Monte Pelée - o maior atrativo de Saint Pierre. Monte Pelée, o vulcão, sempre foi bonito de se ver. Suas faíscas tornam qualquer festa ainda mais bela.

Quando os rapazes me encontraram, pensei que eram quatro anjos caídos do céu. Fui libertado e socorrido. Do lado de fora, vi a cena desoladora: cinza e lava de vulcão cobriam toda a cidade. Não sobrou nada. Casas e prédios derreteram, a vegetação foi toda queimada.

Soube-se depois por que a cidade não foi evacuada. Os jornais não noticiaram, pois não queriam assustar o povo. Além disso, as eleições estavam próximas. O governador queria votos.

Contaram que o povoado foi destruído em 3 minutos. A cinza e a lava mataram 30 mil pessoas. Apenas eu sobrevivi. Eu, um bandido, um presidiário. Logo que me recuperei, concederam-me regime semi-aberto. Fugi. Desde então, ando louco atrás desse tal governador. Quando encontrar enfio-lhe a faca no meio das costas.

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Em 1902, o vulcão Monte Pelée entrou em erupção. O fluxo piroclástico espalhou cinza vulcânica, a 300 ºC, e lava, a 1000 graus. A cidade de Saint Pierre, na Ilha da Martinica, foi destruída. 30 mil pessoas morreram. O único sobrevivente foi Ludger Cilbaris, um detido. As várias camadas de parede que constituiam sua cela filtraram as partículas de magma. Por ter sobrevivido, Cilbaris ficou conhecido como o homem maravilhoso.

2 comentários:

Giovani Iemini disse...

bem escrito. é teu? faz parte de algum projeto?

Amarilis disse...

Oi Giovani, obrigada pela visita. Escrevi depois de pesquisar os acontecimentos na internet, mas só por curiosidade. Beijo e volte sempre.