quinta-feira, 5 de junho de 2008

Para abrir a porta

Não adiantou fazer força, empurrar a porta, gritar que abrissem. Bancar o lobo e soprar. Não adiantou, ela continuou fechada.

Tentou ser mais sutil: passou por baixo um bilhete, um cheiro de pão quente. Cantou uma música doce. Bateu palmas. Sussurrou "Abre-te Sésamo". Também não funcionou.

Tentou todos os seus métodos. Tomou chuva, depois poeira. Esperou perseverante. Perdeu seu tempo. Ela continuou imponente, fechada bem na sua frente.

Virou as costas, mudou de idéia. Manteve um só fio de lembrança do caminho que o levasse a ela. Deixou passar o tempo e muito depois voltou à cena. Encontrou tudo absolutamente igual.

Ficou bravo, se desesperou, chorou. Revoltou-se contra a porta injusta que não o deixava entrar.

Mas, agora, teve um estalo. Sou eu quem está dentro, o mundo está todo lá fora. Ele então vira o trinco, puxa com cuidado para dentro e pronto: a porta se abriu!

S. Dali. Maquette of the scenery for Labyrinth. 1941.

2 comentários:

Mulher Solteira disse...

Perfeito!

Tô sumida, né? Semana maluca, trabalho novo! Mas tô AMANDO!

Beijo, saudade.

Alexandre Lemke disse...

Quem bom que você gostou! Teus textos são muito legais também :]