sábado, 26 de julho de 2008

A fábula das férias

No primeiro dia, caminhei entre árvores floridas e raios de sol que penetram entre os galhos. Vi tudo novo, como da primeira vez. O telefone tocou. Atendi, era do meu trabalho. Depois de muito caminhar, à noite dormi como urso.

No segundo dia, acordei ao meio dia. O telefone tocou, mas eu não atendi. Fiz as malas, entrei no carro, acelerei. A certa altura, meus joelhos dobraram-se para trás e me transformei em cavalo. Cresceram asas nas minhas costas e galopei no ar para o meu destino - Campinas.

Perto de chegar, perdi as patas e tomei forma de pombo-correio. Reuni-me com amigos-pombos, que retornavam de infindáveis viagens. Trocamos histórias e afeto, pizza e chopp, no lugar de sempre. Pombos-correios são muito fiéis ao seu lugar, assim como meus velhos amigos são fiéis à amizade.

A conversa foi longa, o tempo curto, a lua cheia, o sono pouco. Amanheci transformada em lobo - a família reunida em torno da comida. As mulheres-lobo, talentosas como chefs, se encostam a pretexto de cozinhar e lavar, quando querem falar da matilha.

Depois de alguns dias na cidade, deu-se a hora de mudar de ares. No sítio, vigiados por vacas, cães, gatos, galinhas, periquitos, pererecas e outros bichos, tivemos que virar gente. O que foi bom, pois comemos costela assada, derretida na brasa, com cerveja e conversa fiada.

Quase no fim do meu tempo, me desinibi. Fui ver pôr do sol na lagoa, transformada em sucuri. No caminho para casa, uma borboleta amarela pousou nos meus cabelos e me tornei a moça mais bonita de toda a aldeia. Abri o livro "Fábulas italianas" do Ítalo Calvino e lí 100 páginas de uma só vez.

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