sábado, 30 de agosto de 2008

Receita pra ir embora

Se não posso mudar de mundo, pelo menos de país
Mas enquanto não deixo o país, quem sabe uma nova cidade.
Até sair da cidade, me divirto em mudar de casa
Enquanto procuro a tal casa, eu mudo meu modo de olhar.
E vou enganando a hora, vivendo o que é de viver
Até finalmente poder
Ir embora.

Em Brasília

Saiu a MP dos 350.000! Agora só falta chover.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Exercício

Comece imaginando um céu azul. Depois imagine-se jogando pétalas de rosa para o alto. Paisagem pintada de vermelho e branco, pétalas pairando até o chão.

Depois imagine o vento que suspende tudo, e algumas pétalas delicadamente voltam a pousar na sua mão. Sem nenhum empenho seu.

Agora imagine que as pétalas de rosa não são pétalas de rosa, mas a sua sorte. Tão logo consiga desfazer-se dela, sutilmente ela volta a pousar em você.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Sossego

Parque de areia, balanço de pneus, brinquedos de madeira. Árvores derrubam sementes vermelhas e minúsculas na primavera.

Penumbra. Silêncio. Vontade de ficar alheia. Ao riso que não vou dar, à palavra que não quer dizer, ao ofício de conviver.

sábado, 23 de agosto de 2008

Raciocínio Lógico

Se papai-noel não te assiste
Coelho-da-páscoa nem rastro
Ou é coisa que não existe
Ou é hora de atualizar o cadastro

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Não fale com estranhos

1983 - Recife

Fim de tarde, sol e calor. A gente pegando jacaré com prancha de isopor. Maré vazante, mar puxando pra dentro. Sem perceber fui levada até uma falha nos arrecifes, me agarrei numa ponta de coral. Gritei. Três caras que andavam na praia me tiraram de lá. Um minuto depois, minha mãe chega, assustada, correndo para nós.

1995 - Estrada Campinas-Valinhos

Último dia de estágio, colação de grau no fim da tarde. Saio da fábrica atrasada, meu chevette velho dando pala. Chuva forte na estrada. Marcador de gasolina quebrado. Fiquei na mão... Mocinho pára, me leva até o posto, compra 2 litros de gasolina, volta comigo, coloca o combustível pra mim. Me formei, tudo acabou bem. A vida andou e eu não liguei pro mocinho, mas fiquei com seu cartão.

1998 - Viaduto da Moraes Sales

A caminho da escola de inglês, sou cercada por um grupo de trombadinhas. Levam meu relógio e minha carteira. Sinal fechado, um motorista larga o volante e corre atrás. Desce outro e também corre. O primeiro recupera minha carteira, com todos os documentos, o segundo não alcança meu relógio, mas me manda entrar no carro e me leva para a escola. Aiai.

Hoje - Repartição

O Chefe pede que eu leia uma artigo em inglês, pra apresentação. Descubro que é o resumo de um livro. Entro na internet. Tem a opção read in web, mas não gosto. Entro página por página e começo a formar um documento no editor de texto. De repente, surge um anúncio do lado da página: para leitores no Brasil, download gratuito do livro completo em PDF. Me cadastro e baixo em meio minuto - " é cortesia pra países em desenvolvimento". Eles me descobriram e resolveram me dar um presente!!!

Obrigada, estranhos! Espero vocês numa próxima ;-).

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Espírito Olímpico

...

- Mamãe... Oito medalhas de ouro! Caraca!! Eu tava rico!!!

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Às favas com os escrúpulos

Ontem fui ao teatro, ver "Às favas com os escrúpulos". Estranho assistir a uma peça como essa em Brasilia. A peça é engajada. Aponta todos os vícios morais dos políticos e cia. Desde as traições e mentiras à velha esposa, até corrupção e dinheiro no exterior. Tudo é tão óbvio e me dá asco, enquanto o público oscila entre o riso meio histérico e as palmas.

Houve momentos em que eu quis ir embora de lá, outros em que ri. O teatro repete escândalos dos jornais diários, bate e rebate nos homens canalhas e nas putas de Brasília. A sociedade é produto de seus indivíduos e vice-versa. Somos todos atingidos por essa crítica crua, por participação direta ou por omissão. Pra mim, isso não é diversão. Será arte?

domingo, 17 de agosto de 2008

A roda da fortuna

Desafiando minha lógica engenheirística, começo a agreditar que tudo tem sua razão de ser. Até a dor que embaça a vista, quando arrefece nos faz ver melhor. Pra mim está claro, preciso continuar a mudança.

Mês que vem, faço 35. Isso me lembra que é hora de ser jovem. Hora de ir onde não fui, ver o que não vi, fazer o que não fiz. Hora de mudar de casa, de partir pr'outra viagem, incrementar a vida, expandir o horizonte. É hora de satisfazer a minha vontade.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Dia de Fausto

Nem todo mundo escolhe amigos pela posição social. Nem todo mundo transa pra se promover. Nem todo mundo sonha dar o golpe do baú. Isso é trivial. Mas também é trivial que uma hora apareça alguém que queira nos comprar. Então riremos, se a oferta estiver aquém do nosso amor próprio. Balançaremos se ela for razoável e talvez até topemos, se ela parecer muito boa ou fácil demais.

Não sei se todo mundo tem mesmo um preço. Sei que ainda não me arrebataram. Hoje, porém, fizeram-me uma oferta, daquelas de rir. Meu amigo M, que acabou de voltar das férias, quando soube da história me disse assim: foi seu dia de Fausto, Mefistófeles pôs a mão no seu ombro.

Eu - que ainda não li Fausto, não fiz meu preço e teimo em escolher meus amigos pela perspicácia (deles) - fui buscar a história no Google. M, como sempre, tinha razão, guardadas as proporções. Nunca terei o glamour de um Fausto e meu aspirante a comprador vai ter que treinar muito pra chegar aos pés do diabo.

Mais sobre Fausto, veja: http://paginas.terra.com.br/arte/dramatis/faust2.htm

Sewekow. Faust-Zyklus (2007)

domingo, 10 de agosto de 2008

As meias de meu pai

Quando eu era criança minha mãe costumava comprar uma caixa com três pares de meias, daquelas pretas e marrons, pra gente dar no dia dos pais. Meu pai chegava depois de um dia de trabalho, sentava-se no sofá e pedia que eu lhe tirasse as meias, úmidas de suor. Eu atendia fazendo careta. Era divertido.

De noite, era a vez dele arrancar as nossas meias, enquanto a gente dormia. Ele dizia que não podia dormir, pensando no calor que a gente devia estar sentindo.

Hoje, não tiro mais as meias de meu pai, nem ele as minhas, enquanto durmo. Hoje eu tenho a idade que ele tinha, quando era pra mim o homem mais importante do mundo.

sábado, 9 de agosto de 2008

Dois italianos envolventes

Não foi há tanto tempo assim que descobri o prazer de ficar só. Não falo de uma solidão sistemática e diária, que não almejo. Mas viver por alguns dias o descanso sem ritmo de quem não tenha família nem amigos nem preocupação alguma. Sair numa caminhada noturna, perder três horas numa livraria, dormir até meio dia, beber vinho em casa, no silêncio ou na música, pensar sem interrupção.

Nessa tranquilidade, me vi acompanhada de duas figuras italianas absolutamente envolventes: Olinda e Carlo Antonini. Olinda é personagem do filme argentino Herencia, italiana dona de restaurante que vive em Buenos Aires desde o fim da Segunda Guerra. Carlo Antonini, personagem do livro O Conto do Amor escrito pelo psicanalista Contardo Calligaris, também é psicanalista, reside em Nova York e vai à Itália para desvendar o passado de seu pai.

Tanto filme quanto livro falam do presente e da Segunda Guerra, da afetividade sutil e delicada dos que amam. Ora as relações de amor estão no foco, ora o tempo em que se dão. São duas obras comoventes, valem cada minuto. Enquanto duram, nos dão a sensação de sermos parte do enredo. Quando terminam, nos fazem lançar um outro olhar a nossa própria história. Se as personagens têm paixão pela sua, por que nós não?