sexta-feira, 4 de abril de 2008

A imagem do amor

Sempre pensou casar-se, ter filhos, viver uma história de amor para sempre. Amor em que as vidas se fundem e irremediavelmente se entregam.

Com grande sorte, venceu a espera e encontrou o homem certo. Realizou sua imagem mental de amor: encantou-se, entregou-se, cedeu, concebeu. Viveu seu tempo, seu caminho natural.

Mas viver o sonho tem um preço. O dela foi desfazer-se de outras vontades, de outros amigos, de outros prazeres. Deixar um pedaço de si em cada pequeno desvio, a fim de retornar ao caminho imaginado. Conceder favores em troca da manutenção do acordo implícito. Ceder muito além da própria capacidade. Foi aí que se viu repleta de razão e vazia de sentido.

Então, bem por acaso, ela foi desafiada na sua última capacidade de ceder. E não tendo mais o que dar, entregou-se como última oferenda à velha vida. Desfez-se de si mesma. Sem mais nenhuma posse, nem razão de apego, vazia mesmo de expectativas, ela finalmente resolveu se libertar daquela imagem de amor.

É certo que uma mudança assim não se faz da noite para o dia. É preciso acostumar-se com a perda e aceitar a nossa própria presença como suficiente. É preciso aprender a ver os outros e dissociar-se deles. Parar de esperar o extraordinário e apaixonar-se pelo presente. Quem já aprendeu a amar assim?


*imagem: Pablo Picasso, Mulher ao Espelho, 1932

Um comentário:

Mulher Solteira disse...

É o exercício diário de todos nós. Porque, como eu sempre digo, o tempo passa muito depressa e também muito devagar.
Sou sua parceira de caminhada.
Beijos,
Cris.