quarta-feira, 30 de abril de 2008

Devaneio romântico

Um dia qualquer de sol ou chuva, essa semana ou no ano que vem, o futuro baterá à minha porta. Me encontrará descalça, após o banho. Entrará, me olhará nos olhos, falará bobagens, flutuará comigo no universo úmido do querer. Sem plano, sem programa, sem susto ou telefonema. Como abelha que encontra a flor, como fruta que cai do pé. E eu lhe farei companhia como a um velho conhecido... Afinal, que é o futuro se não versão concreta, edição revista e ampliada do devaneio presente?

domingo, 27 de abril de 2008

Domingo no Parque (2)

Os carros ainda estão molhados da chuva torrencial, que me levou cedo pra cama ontem. Amanheceu, o sol brilha no céu sem nuvens. São 7:30. Meu filho me acorda, eufórico pra sair.

Algum tempo depois, estamos à beira da piscina. Duas meninas negras de cabelo trançado e biquínis coloridos brincam ao nosso lado. Uma loirinha numa bóia de cisne cor-de-rosa é puxada pela mãe. Outras crianças, com água mineral na altura dos joelhos, escolhem pedras, quartzos, seixos. Pais lêem jornal, cochilam, cuidam dos pequenos. Avós de maiô se molham na água fria, cercada de cerrado. Jovens tatuados tomam sol e conversam entre si. O burburinho de vozes indistintas soa como música aos meus ouvidos.

É domingo. As pessoas comuns que habitam essa cidade de poder e vaidade procuram diversão gratuita, junto à natureza exuberante do Parque da Água Mineral. Trazem laranja, biscoitos, suco, toalha, jornal. Estou em casa. Aconchego e simplicidade que lembram o lar. Não sou daqui, não conheço ninguém, mas tudo isso é meu também.

Água Mineral é o nome popular do Parque Nacional de Brasília localizado a + ou - 10 km do Plano Piloto, na porção Noroeste do DF. Atualmente, a Vigilância Sanitária tem exigido apresentação da Carteira de Vacinação contra Febre Amarela, como condição para o acesso. Nem adianta chorar. + info em: http://www.ibama.gov.br/revista/brasilia/texto_brasilia.htm

Quanta ingenuidade

Voltando do Parque "Água Mineral" pelo Eixo Monumental, cantando um samba com Adriana Maciel, paro o carro no sinal mais próximo ao Memorial:

- Mamãe, como foi que o Juscelino Kubitschek morreu?
- Morreu de velho meu filho.
- Hã?
- De velhice.
- Hã?
Abaixo o som e respondo de novo:
- Ficou bem velhinho e morreu!
- Não, mamãe: o carro dele bateu num caminhão e ele morreu na hora. A minha professora falou.

(Falta de) Moral da História: não consigo mais enrolar nem um guri de seis anos!

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Da janela



Da minha cadeira, vejo as pontas da Catedral entre as árvores e um céu muito azul. Seria o lugar perfeito para a mesa do meu colega, que trabalha nesta sala há mais de 20 anos e é um homem cristão. Porém, ele se senta de costas para a paisagem.

Aqui, só eu abro e fecho as persianas, pois sol e chuva me atingem primeiro. Minha mesa é de segunda mão, o pé da cadeira desvia de um buraco no chão. Isto é uma repartição!

Mas é dessa cadeira que eu vejo além. Este ângulo é só meu e vai ficando em segredo... Até que alguém se sente no meu lugar, ou bem perto, e com tempo e paciência possa achar graça na beleza que, casualmente, olha pra mim.

terça-feira, 22 de abril de 2008

É tudo verdade!

- Como tem passado?
- Mais ou menos, doutor.
- Como se sente? Doente?
- Não, briguei no trabalho. Quero um atestado de dois dias...
- Hã... Pode ser por depressão??
- Não, eu gosto mais de amidalite! :-)

Saiu do consultório apressado, foi pra casa e começou a sentir a garganta. Passou cinco dias de cama, inclusive o feriado de ontem. Ô azar-da-muléstia!

domingo, 20 de abril de 2008

É chato ser pequeno

- Mamãe, posso levar esse?
- Hellboy?! Deix'eu ver a censura...
- ... - silêncio, olhos fixos, apreensão.
- 14 anos!
- Ah mãe, vai! Meu pai até já me deu um quebra-cabeça de 7 anos...

sábado, 19 de abril de 2008

Dezenove

Voltando pra casa pelo Eixão, 80 km por hora, emparelha um Fiat do meu lado. Dois meninos bonitos me sorriem: ei, vamos com a gente pro bar? Desemparelho, penso um pouco, eles voltam pro meu lado. Dou uma risadinha:
- Eu tenho 10 anos mais que você.
- Quantos anos você tem?
- 34.
- Quantos anos você acha que eu tenho?
- 24.
- Não! Eu tenho dezenove!
Desemparelho de novo, me sentindo bem gatinha. Voltam pro meu lado e ainda escuto:
- Eu não me importo! Idade tá na cabeça.
Eu acelero. Nada importa, até que eu lhe dê a primeira pérola dessa minha cabecinha idosa.
Ah se eu só tivesse vinte-e-nove! ;-)

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Uma colher de chá, das de sopa!

Várias coisas estranhas vem acontecendo na repartição por conta da campanha salarial. Bafafás mil, alguns e-mails fora de lugar e pimba. Um amigo em apuros.... Bati o ponto e fomos esfriar a cabeça. Muito papo depois chegamos à óbvia conclusão de concordar com o advogado de outro amigo presente: se pensar não fale; se falar, não escreva; se escrever, não assine; se assinar não envie. E meu amigo em apuros justamente por pensar, falar, escrever, assinar e enviar... tudo ao mesmo tempo e sem nenhuma papa la língua.

Foi exatamente por esses desentendidos que saímos juntos e fomos buscar meu filho na escola. Chegamos cedo. Tão cedo que reencontrei vários pais de crianças que há muito eu não via. Meu amigo, um pouco em crise, quis conhecer o Jardim de Infância e ver o que faz dele uma das melhores escolinhas daqui. Ficou visivelmente feliz em rever uma escola pública em bom estado. Lembrou-se da infância...

Saindo de lá, happy no boteco mais tradicional da cidade. E quem eu encontro? Um amigo de segundo grau, que não via desde 1990. Há 18 anos inteiros! É muito tempo.... Aquele momento foi como voltar ao último dia em que nos vimos. Foram 20 minutos reveladores em cada palavra e em cada olhar. Esse passado ficou registrado indelevelmente. O cara está ótimo, como eu nunca duvidei que estaria. Permanece especial no transcurso do tempo. Eu também estou bem. Um pouco só, mas isso não vem absolutamente ao caso. Nos despedimos, mas seu sorriso fica na minha retina, nunca me deixou. O tempo passou e um pedaço desse sentimento ainda sustenta o pilar de quem eu sou. Acho que não nos reencontraremos tão breve. Podemos marcar qualquer coisa, mas não vamos. Por que o amor verdadeiro não morre. Ele fica guardado, aprisionado e não pode mais sair.

Então foi assim que um dia estranho e desagradável me levou a um caminho diferente -transbordar de sentimentos - trazendo um pouco mais de sentido à minha vida, que andava chocha fazia uns dias. Hoje o passado e o futuro se beijaram de língua, bem na minha frente. Uma colher de chá de mel na minha boca, das de sopa!

Presente

Mudar o trajeto pro fim
Só pode trazer um fim,
diferente do esperado
Conduz a nossa razão
a espiar pelo outro lado
e o presente a se dar
como nunca imaginado.

Mudar o trajeto e buscar,
quem querido ficou na estrada
Ter braços pra abraçar,
boca pra ser beijada
Mudar o trajeto pro fim
E pensar que o mesmo trajeto
É que foi o presente pra mim.

sábado, 5 de abril de 2008

Tempos modernos

Visita dos meus pais e meu filho sem nenhum motivo pôs-se a cantar:

Com quem será, com quem será que a minha vó vai casar?
Vai depender, vai depender se o meu vô vai querer.
Ele aceitou, ele aceitou, teve dois filhinhos e depois se separou.
Passou um mês, passou um mês e casaram outra vez.

Rachei de rir e pensei no meu post de ontem... "Quem já aprendeu amar assim?" Não sei de onde ele tirou essa, mas definitivamente meu guri está no caminho!

sexta-feira, 4 de abril de 2008

A imagem do amor

Sempre pensou casar-se, ter filhos, viver uma história de amor para sempre. Amor em que as vidas se fundem e irremediavelmente se entregam.

Com grande sorte, venceu a espera e encontrou o homem certo. Realizou sua imagem mental de amor: encantou-se, entregou-se, cedeu, concebeu. Viveu seu tempo, seu caminho natural.

Mas viver o sonho tem um preço. O dela foi desfazer-se de outras vontades, de outros amigos, de outros prazeres. Deixar um pedaço de si em cada pequeno desvio, a fim de retornar ao caminho imaginado. Conceder favores em troca da manutenção do acordo implícito. Ceder muito além da própria capacidade. Foi aí que se viu repleta de razão e vazia de sentido.

Então, bem por acaso, ela foi desafiada na sua última capacidade de ceder. E não tendo mais o que dar, entregou-se como última oferenda à velha vida. Desfez-se de si mesma. Sem mais nenhuma posse, nem razão de apego, vazia mesmo de expectativas, ela finalmente resolveu se libertar daquela imagem de amor.

É certo que uma mudança assim não se faz da noite para o dia. É preciso acostumar-se com a perda e aceitar a nossa própria presença como suficiente. É preciso aprender a ver os outros e dissociar-se deles. Parar de esperar o extraordinário e apaixonar-se pelo presente. Quem já aprendeu a amar assim?


*imagem: Pablo Picasso, Mulher ao Espelho, 1932

terça-feira, 1 de abril de 2008

Razões pra ver o blog

Acompanhe este blog e descubra como ser mulher e mãe e não deixar a peteca cair, como trabalhar pouco e ganhar bem, como amar de novo após a separação, como manter-se bonita, bem informada e de bom humor os 30 dias do mês!

Luiza Caetano, Palhaça Lou com Chapéu. http://luizacaetanaif.arteblog.com.br/



Primeiro de abril!!!!