domingo, 28 de junho de 2009

Primavera

Eu quis o que não devia
Deixei de ser quem eu era
Vesti cores de primavera.
Mas a primavera era eu?
Eu era ela?

Pensei que podia ter
os amores que bem quisesse
Fiz mandinga, prece
Fui noiva de quermesse.
Mas o vestido não me cabia...

Pensei fosse minha
a estrela a brilhar sozinha
bem depois das nuvens negras.
Mas a estrela não era minha.
A estrela também era dela!

Ela, a sonhadora
Que mora em mim, prisioneira.
É dela a primavera,
a quermesse
e a estrela.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Vamos embora!

19:11, sexta-feira, encontro o chefe no corredor.

- Senti sua falta na reunião de ontem... - E disse mais, disse que eu tenho boas ideias!

Tudo bem, não é mais hora de estar trabalhando, mas ouvir isso fechou com chave de ouro a semana. Empurrou a nuvem negra de mim, como uma brisa marinha.

Agoradeus workaholismo.

"Vamos ver a campina quando flora, a piracema, rios contravim Binho, Bel, Bia, Quim, vamos embora!"

domingo, 21 de junho de 2009

A hora certa

Tudo na vida tem hora certa pra acontecer, certo?

Achei um DVD na mochila do meu guri. Pornô!!! Depois de muita insistência minha, finalmente ele entregou o jogo. "Tava no chão da banca de revista e eu peguei". Simples assim... Desnecessário dizer que fiz um pequeno discurso. Expliquei o que é roubar, que as pessoas grandes são presas por causa disso, expliquei que filme pornô é coisa pra maiores de 18 e não para menores de oito e bla-bla-bla. E lá foi ele devolver o artigo, sob a minha supervisão. Era hora disso acontecer? Ele pensou que sim. Eu pensei que não.

Se tudo acontecesse na hora certa, não haveria tédio nem susto. Ninguém ficaria a vida toda esperando ganhar na loteria, encontrar o verdadeiro amor, dar volta ao mundo. Ninguém teria que esperar uma semana inteira pra jogar vídeo-game. Ninguém seria pego de surpresa por uma oferta de trabalho ou por um olhar intencionado. Tudo seria menos frustrante, mais previsível e mais organizado.

Então, pra mim, hora certa não existe mesmo! Mas, só pra garantir, acho que vou acertar os ponteiros com os de mamãe, do meu chefinho, da caixa econômica federal e do vizinho do quarto andar... E aí no seu relógio, que horas são?

O fim do amor

Toda noite, antes de dormir, ele amola o punhal e o deita debaixo da cama.
É seduzido no meio da noite e revida a punhaladas. Assassina!
Já arrancou a praga, mas ela insiste em brotar em seu canteiro árido.
Vai matar, enterrar e chorar sobre a lembrança uma centena de vezes...
Até que a terra finalmente crie uma nova, pequena e frágil flor.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Só pra lembrar

É a primeira vez que trago o computador pra minha cama. Mas um dia como hoje merece terminar no conforto macio desse edredon, e derramar uma linha no blog. Adoro essa internet wireless, que me permite fazer café e olhar o email, ao mesmo tempo. Acho que computador e cozinha combinam bem. Quarto e cama, pra mim, já combinam com outra coisa... Mas isso é assunto pr'outro post.

O dia hoje foi difícil, emocionado, tão cheio de momentos diferentes que parece que não foi um dia só. Logo de manhã, ele chorou de um jeito que me quebrou. Tudo por causa de um dente que precisou fazer canal. No fim da sessão, a dentista disse que nunca tinha visto um menino tão corajoso... Ser corajoso, meu bem, não é fácil. Ser corajoso é enfrentar a dor, como ele fez, sabendo que esse é o único caminho pra parar de doer.

Pouco mais tarde escutei, do lado de cá da linha, minha mãe narrar o assalto, de 8:30 da manhã. Isso é hora de vagabundo dormir, não de sair por aí tomando o carro da mãe de ninguém. Mas eles não pensam assim. O carro, a bolsa, o estresse que fica um bom tempo, e a gripe que vai pegar quando passar o susto... Susto, medo, tristeza deixam a gente doente, sabia?

Teve tudo isso... Enforquei a manhã, trabalhei a tarde, um tanto desconcentrada. Chorei na minha cadeira, lugar onde não se chora. Fui vista assim indefesa pelos mais chegados. Deixando a dó salgada correr dos meus olhos. Um sentimento de perda e de amor, que faz tempo eu não tinha. Ver sofrer quem se ama dói. Mas é aí que a gente lembra que sabe sim amar.

domingo, 14 de junho de 2009

O inferno são os outros

Ontem durante a pizza:

- Se você pudesse mudar alguma coisa na sua vida, o que seria?
- Ah, mamãe, minha vida é perfeita. Pra que eu ia querer mudar alguma coisa?
- (suspiro)...
- Quer dizer, se eu pudesse mudar alguma coisa, fazia a mãe do Miguel matricular ele em outra escola! Ninguém da minha escola gosta dele...

Migueis do mundo, uni-vos e matriculai-vos todos numa escola bem longe de nós! Amém!

sexta-feira, 12 de junho de 2009

O coração romântico

Será puro despeito, ou ando mesmo a preferir chocolate, vinho tinto, queijo branco, morangos, livros e casa nova a um romance? Será que a vida me fez uma mulher fria e dora, digo dura? Talvez! Admito que não ando soltando suspiros, nem vendo de perto casais apaixonados...

Dizem que quando a gente engravida, só vê grávidas pra todo o lado. Então, quando a gente está chata, só deve ver chatos.

Mas cadê o sonho? Só vem quando durmo. Sonho que o João, que já não quero mais, está apaixonado por outra e usa um colar de pérolas de água doce. Logo ele que é tão mauricinho... Sonho que o Chico volta a bater na minha porta e eu não abro. Ele traz flores e as entrega para o porteiro que, afinal, merece mais que eu. Sonho que a água inunda a minha casa, mas eu não me afogo.

Sonho tudo o que está na minha cabeça e não tenho coragem de pensar. Por que eu acho mais graça nas coisas que nos amores, mesmo quando chega o dia dos namorados.

domingo, 7 de junho de 2009

A sorte da abelha

Quando olhei pra cima, uma já estava morta. A outra voava freneticamente entre a luz e o prato. Tocava a morta e voltava para a lâmpada, ora empurrando, ora virando a outra, num claro dilema entre salvá-la e fritar-se na luz.

Fiquei um longo tempo em transe, até que o menino teve a idéia. Apagamos a luz do quarto e acendemos a do escritório. Ela veio. Apagamos também essa, abrimos a janela, fechamos a porta atrás de nós. Finalmente ela foi embora.

Eu não sabia que as abelhas eram tão solidárias, mas sabia que aprisionar-se na luz lhes acontece. Há seres humanos que também são assim. Sofrem de encantamento e tardam a perceber que pode ser sinal de sorte, quando uma luz se apaga.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

a Terceira Lei

Quando saio da inércia, ela acelera em sentido contrário, na proporção inversa de sua massa e da minha. Pobre de mim, nada lhe causo... É a Terra que me leva em órbita.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Post da casa nova

Atrás da porta de madeira trancada a dois cadeados bem na minha frente, outra porta, de metal, branca, vazada, está trancada também. Mas tudo bem, eu tenho as chaves que me levam à rua.

Moro num prédio com elevadores. Último andar, no canto. Só um casal de idosos me avizinha. Ninguém mais. Mas a uma quadra, está o cinema. Vizinhos imaginados por gente de toda a parte povoam a tela.

Tudo aqui tem um cheiro amadeirado. Picasso e Tarsila descansam no chão, no meio da noite silenciosa. Eu olho tudo de novo, de novo, e escrevo o que me parece ser.