sábado, 31 de maio de 2008

Motivação

Há momentos em que o turbilhão interno é tão violento que nos paralisa. Quem está de fora não sabe o que se passa dentro. Vivi alguns meses em silêncio. Olhando pra os meus vazios, procurando um novo sentido para a minha vida. A impressão que eu tinha é que haveria uma completa revolução em mim.

Mas no curso dessa revolução calada, surgiu uma motivação inédita e já estou há duas semanas sem nenhuma melancolia. A nova motivação é real, mas também pode ser vista como um cenário que permite exercer minha velha e querida maneira de ser: conviver com pessoas, falar, ouvir, trabalhar muito.

Olhar para dentro é necessário: rever, mudar, procurar outro ponto de equilíbrio pessoal. Mas olhar para o mundo é mais. Dar-se a conhecer, conhecer os outros, trocar calor. Ter objetivos fora do mundo particular, que pode ser muito rico, mas que é certamente limitado. Talvez tenha chegado a hora de redistribuir os pesos, a importância relativa das coisas.

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Com você

Tudo com você parece um campo florido
Florido, perfumado, colorido
Amo a natureza com cuidado
Por que é frágil e, mais que isso, perecível.

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Despretensão

Se há alguns anos eu pudesse ver o futuro, não me orgulharia de mim agora. Meu esforço foi inútil, meus planos deram errado.

Por isso, não faço mais o que não quero. Cumpro a minha obrigação. Fora isso, sou livre. Se não tenho o que dizer, não telefono. Não sorrio pra quem não gosto. Não abro mais o meu mundo pra qualquer transeunte.

Em terra estranha, tudo fica mais fácil. Não há quem nos conheça, quem nos compare com a gente mesma, nenhum motivo pra manter a coerência.

Meus novos amigos não me devem nada, nem eu a eles. Mas me ensinam que há muitas formas de ser boa pessoa e que posso ter calma. No momento, tenho pouco para dar e espero receber só um pouco, que seja, porém, sincero.

Se há alguns anos eu pudesse ver o futuro, não me orgulharia de mim agora. Porém, agora, me orgulho e só da coragem de começar de novo.

terça-feira, 27 de maio de 2008

Saudades do Aurélio

Acho que foi no Natal de 2004. Dei pra minha mãe o Novo Dicionário Aurélio 3ª Edição de presente. Claro que eu tinha segundas intenções (com cedilha): ficar com a edição antiga, de 1986!

Porém, desde que comecei a trabalhar na repartição, cheia de pilhas e pilhas de papelada velha, ou melhor, quando comecei a conviver pessoalmente com "a história da instituição", me atacou uma alergia impressionante aos ácaros. O Velho Aurélio daqui de casa, que já tava todo desmilinguido por ser usado como escada pelo guri e amplamente dominado pelos acarídeos, teve que ser deitado fora na caçamba lá de baixo. Resultado: fiquei sem dicionário!

Daí em diante, sempre que pinta uma dúvida eu consulto o Google. A grafia com mais resultados fica acatada como correta.

Surgiu então a palavra preten(c ou s?)ioso.

Fui lá no Google:
pretensioso = aproximadamente 119.000 resultados
pretencioso = aproximadamente 331.000 (vencedor com ampla margem!)

Dei uma de São Tomé, vasculhei e achei um minidicionário Silveira Bueno escondido entre as minhas bagunças. Surpresa descobri que o Google faiô. Pretensioso é com esse, vem de pretender. Da mesma forma que cessão, com dois esses, vem de ceder!

Coisa, não??

A partir daí, fui acometida de saudades galopantes do Aurélio. Comentei com quem resolve e mamãe prometeu me dar um novo de presente na próxima data festiva. Viva!

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Tempo

É bom lembrar que houve um tempo geológico para a formação das cordilheiras. Que passaram-se milênios entre a pedra lascada e os robôs filmarem Marte. E que se conta em décadas a vida inteira de um homem.

É necessário paciência, pois vão-se meses até a colheita do trigo. Dias para encontrar a quem se ama, horas para sentar à mesa.

E atenção. Pois são poucos os minutos até a asfixia e apenas segundos a duração do orgasmo.

Todo tempo - ínfimo ou interminável - tem a sua importância. Às vezes é preciso pensar o futuro longínquo, que nem mesmo será nosso. Outras vezes, esquecer o dia, perder a hora, deixar-se envolver na passagem ritmada dos segundos.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Rodízio

Virou mania. A caminho do rodízio, a gente tara na farmácia e se pesa de novo na volta.

Pois hoje o moleque comeu: 4 pedaços de pizza (!) + um suco de laranja + um sorvete com calda de chocolate = 800 gramas.

- E você, mamãe?

Subi na balança e constatei atônita: 1 quilo! É exagero, eu sei, mas se pode ser usado como atenuante, tomei dois chopes (!!!). Daí o moleque me sai com essa:

- 1 quilo? deve ser por isso que você tá gorda que nem uma porca. Me olhou de cima abaixo e corrigiu - Quer dizer, tá fina que nem uma iguana!

E voltamos pro nosso galho dando risada, os dois magrelas.

PS: aos domingos o eixão (maior avenida de Brasilia) fecha. Ontem eu caminhei, palavra!

domingo, 18 de maio de 2008

Contraponto

Maitena

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Balanço da semana

Massante. Trabalhei de madrugada preparando reunião que não aconteceu; tive insônia à noite e sono de manhã; dor de cabeça com a campanha salarial; me aborreci com as notícias do jornal.

Em compensação, sonhei que tinha um enorme tatu na minha cama; que recebia uma dinheirama e comprava um belo apê; que revia o mocinho intrigante e que morria de rir com o povo do trabalho.

Meta pra próxima semana? Inverter sonho e realidade: tratar bem o tatu e não reclamar dos pesadelos.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

As paixões

Sempre tive propensão às paixões. Pelos homens, certamente. Casei-me aos cinco anos na festa junina no Jardim de Infância. Aos sete, estava apaixonada por outro, que sabia desenhar letras na areia do parque. Dessas seguiram-se outras: uma a cada ano ou dois, por outros homens. Mas não só por eles.

Custou, mas me apaixonei rigorosamente por todas as cidades onde vivi. Uma por ter o mar e a minha infância, outra pela bicicleta e os amigos da adolescência. Outra ainda por causa da universidade e a minha primeira vez em quase todas as coisas bacanas da vida. E mais outra pela independência e a intensidade dos meus vinte e poucos anos. Depois, mudar de novo e de novo. A cada mudança um susto e depois do ódio a adaptação, seguida da paixão.

Tive também as minhas paixões pelo trabalho: a refinaria, minha e dos operários; a fábrica de papel, meu trabalho mais longo; o laboratório de saneamento; a repartição. Experiências muito empolgantes entremeadas, é claro, por outras bem blasé.

E as viagens? E a música? E os livros? E a escrita? E o cinema? E dançar? São todos capítulos à parte!

Revendo a minha história concluo: não posso evitar as paixões. E elas são sempre longas, por que eu tenho apego. Duram, em geral, até que surja uma próxima. Às vezes são absorventes e exclusivistas, outras vezes coexistem com as outras paixões. Às vezes morrem, pra brotar mais adiante. Nunca me matam, sempre me movem. Sutis como a chama da vela ou incontroláveis como o incêndio do século são elas, as paixões.

domingo, 11 de maio de 2008

sábado, 10 de maio de 2008

Amor de mãe

Quase tudo que eu sei, aprendi com minha mãe.

Aprendi que homens e mulheres deviam ter direitos iguais: enquanto eu secava a louça, meu irmão limpava o fogão.

Ela me ensinou que uma mulher tem seus ideais e deve ganhar o mundo. Que o trabalho traz independência e que quem paga as próprias contas é dona do seu nariz. Mas me ensinou também que o lar é o nosso universo particular e merece cuidado. Lá a gente ouve Belchior e lê poesia e é de lá que a gente vê o mundo.

Aprendi com ela o que toda mãe devia saber: que comida tem que ser saudável, que criança não vê novela e que tem hora de dormir.

Ela me ensinou o ofício de equilibrista. E cá estou a girar meus pratinhos no ar.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Mau humor

Quero ser independente, mas quando a pressão aumenta eu me condenso e tomo a forma do recipiente.

Se esfria demais eu me congelo e fico insuportável; mas com o calor derreto, fluida e adaptável.

Não me esqueça ao relento nem me aqueça em demasia, do contrário evaporo e vou chover noutra freguesia.

Como a água, tenho as minhas fases, quase ninguém atura. Fluida? Só em condições favoráveis de pressão e temperatura.

sábado, 3 de maio de 2008

Saudades de não saber

Antigamente, o pai segurava criança com um cigarro aceso no canto da boca. Cigarro não dava câncer.

Andar descalço não dava verme e era permitido acarinhar cachorro da rua. Não tinham inventado o pit bull.

Era normal jogar lixo da janela. Atropelar tamanduá ou lobo guará não era crime. Espingarda de chumbo era brinquedo e matar passarinho, molecagem.

A gente levava pito por deixar a luz ligada, mas lavava quintal e calçada. Não havia falta d'água nem conta no fim do mês.

Tomar sol sem protetor te deixava vermelho e ardido, mas não causava câncer de pele nem envelhecimento precoce. Não existiam os raios UV, nem a camada de ozônio.

Uns dias eram mais quentes, outros mais frios e o homem não tinha nada a ver com isso. Era coisa da natureza.

Antigamente era tão bom...

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Supermercado é divertido?

Porque certas idéias bobas vivem me tentando, resolvi experimentar o Carrefour Bairro da 308. Pensei que podia ser divertido: novas gôndolas de verduras e frutas, vinho para logo mais à noite, algum chocolate diferente. Variar do mercado popular que é meu vizinho.

Mas surpresa! Não tinha quase verdura, as frutas eram as de sempre, nenhum vinho tinto em promoção. Entre a minha frustração silenciosa e a gôndola de maçãs, um homem de seu metro e oitenta, camiseta do supermercado, chora. Rosto vermelho, olhos perdidos no infinito. Mas por que? Será que o gerente o mandou embora? Será que a mocinha do caixa terminou o romance? Serão lágrimas de saudade?

Meio minuto de espanto e sigo adiante, juntando coisas no carrinho. Meu filho escolhe tic-tacs, chocolates, salgadinhos, que discretamente vou deixando prá tras sem que ele veja. Começo a me preparar psicologicamente para a conta dessa meleca de supermercado, capaz de me arrancar alguma lágrima também.

Divertido mesmo seria comprar na Casa Santa Luzia em Sampa, na General Foods em Campinas, ou similar aqui em Brasília, por sugestão de algum internauta amigo - quem se habilita?. E de lá sair carregando uma sacola só, é claro, por que dinheiro não cai do céu!

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Primeiro de maio

Se o trabalho dignifica e só amor constrói, neste feriado fiquei mais digna e construí, no trabalho amoroso de melhor mãe do mundo. :-)

Uma salva de palmas a todas as mães trabalhadoras, à minha avó Cristina e à minha mãe.